De tempos em tempos vem a informação de empresas que estão aumentando a licença-maternidade de mães, e passando a conceder licença-paternidade aos pais. Nada contra. Até fico emocionado, mas, e simultaneamente, pasmo. Não é isso que está acontecendo no mercado e na vida. Isso, definitivamente, não é uma solução. É alimentar-se um eventual e quase impossível retorno ao trabalho.
Crianças nascendo são momentos extraordinários e espetaculares na vida dos pais. E assim deve-se considerar toda a forma de apoio para facilitar que cuidem de seus filhos. Mas, e simultaneamente, que isso jamais implique em distanciá-los da realidade. Caso contrário, o retorno, meses depois, torna-se quase uma impossibilidade absoluta. Assim, caso a caso, função a função, empresas e seus profissionais devem pactuar sobre como passa a ser o relacionamento entre ambos, nos primeiros meses pela felicidade da chegada do filho. Cortar-se radicalmente, interromper-se a relação, é a pior solução.
Negociar uma ausência suave, sem jamais uma perda de contato total, talvez e apenas nas duas primeiras semanas, é o caminho mais lúcido e inteligente para contemplar a conveniência e interesse de todos. Não existe uma solução única e específica. Cada caso é um caso e assim deve ser tratado. Dependendo das características da empresa, do trabalho, da personalidade do profissional. Ou seja, momentos únicos carecem de soluções únicas e sob medida.
Assim, é com constrangimento e indisfarçável desconforto que li a manchete de uma matéria recente do jornal Valor, e que dizia, “Companhias criam licença-paternidade de até seis meses”. E no corpo da matéria, primeiro parágrafo, vinha a referência, “A farmacêutica Sanofi anunciou nesta semana a ampliação da licença-paternidade para sua força de trabalho na América Latina que envolve 7.300 funcionários. A partir de janeiro de 2020 os novos pais ganharão o direito de ficar em casa por até seis meses sem desconto no salário ou necessidade de trabalho remoto…”.
Depois de 6 meses, num mundo onde uma semana é uma eternidade, a empresa que entrar nesse engodo estará condenando muitos de seus principais colaboradores a uma inutilidade total, a um burnout inevitável e radical pela ignorância, tédio, insegurança, e que os remeterá, inexoravelmente, a total e absoluta obsolescência. Obsoletos, e, doentes.
Nascimento é vida. E não se vive ausentando-se, ignorando-se, naufragando-se no ócio e no tédio de tentar se passar seis meses olhando e supostamente cuidando exclusivamente de um adorado filho. Se trabalhássemos hoje em alguma empresa que nos oferecessem essa possibilidade, nós, consultores da Madia agradeceríamos imensamente, e diríamos:
Nem por um cacete quero me ausentar por mais de 15 dias! Quero uma situação mais confortável para aproveitar esses primeiros dias e meses de imensa felicidade pelo nascimento de um filho. Mas tenho consciência que num mundo líquido, fluido e disruptivo, mais que duas semanas de distanciamento total me remetem irreversivelmente a obsolescência.
Assim, esqueçam ausências, prazos, camisas de força. Cada situação, uma negociação específica, cordial, moderna, madura, lúcida e verdadeira. E contando com os inestimáveis recursos da tecnologia. Que jamais alguém precise dizer, mais adiante, ganhei o melhor presente da minha vida, e acabei desencontrando-me, profissionalmente.
Sempre oportuno lembrar o que nos ensinou Confúcio, há mais de 2.500 anos: “Escolhe um trabalho que gostes e não terás que trabalhar um único dia em sua vida”.
Assim, entre a alegria e felicidade das bênçãos de ter um filho e ser mãe, ou pai, e a felicidade da sequência de sua jornada profissional, fique com os dois. Sempre é possível.