Décadas atrás, talvez os mais velhos de vocês se lembrem, a Bols decidiu – sabe-se lá por quais razões – que as pessoas, muito especialmente os homens, estavam cansados e não queriam e nem mais tinham tempo para prepararem seus drinques.
E assim, num lance de suposta inovação, lançou a bebida Dakar. Nas versões Gim Tônica, Cuba Libre, Hi-Fi, e outros mixes.
A certeza do sucesso era tão grande que em vez de um criterioso lançamento em mercado teste, preparou uma mega campanha e lançou nacionalmente.
Nas principais redes de supermercados do país, em todas as suas lojas, pilhas da novidade: Dakar.
Passou os dois anos seguintes recolhendo produtos nos pontos de venda. Pesquisa posterior confirmou o óbvio.
A Bols tinha conseguido acabar com o barato que os apreciadores de drinques mais gostavam: o ritual da preparação. Abrir a tampinha e despejar num copo com gelo era tédio, emoção zero, quase um funeral…
Meses atrás, mais de 40 anos depois, a Coca-Cola repete a temeridade. Tudo bem, o poder de distribuição da Coca é monumental comparado com a Bols, mas, e se nossa sensibilidade permanece em bom estado, hoje, mais que há 40 anos, as pessoas que gostam de preparar drinques gostam de preparar drinques, e não, já encontrarem pronto na garrafinha. Não só não gostam como, pior ainda, detestam, odeiam, xingam…
De qualquer maneira, aí está a Coca, com sua marca Schweppes, nas versões com gim, vodca e espumante. Um pouco diferente do que fez a Bols, mas, repito, uma temeridade.
Por outro lado, elevadíssimo risco de uma marca que jamais considerou a possibilidade de comercializar bebidas alcoólicas, não ter resistido, flexibilizado, e lançado uma sombra ou dúvida sobre seus fundamentos. Já tinha feito isso no ano passado no Japão, com o lançamento do Lemon-Do, e em versões com 3% e 7% de álcool…
Empresas, como pessoas vez por outra cochilam, não resistem a tentações, cometem pequenos pecados, arrependem-se, e prometem nunca mais incidir na bobagem. Anos ou décadas depois, e nem mais se lembrando da lambança, voltam a repetir.
Em algum momento, nos próximos meses, acredito, alguém com um mínimo de juízo vai dar um murro na mesa e acabar com a brincadeira na Coca-Cola… Se é que já não tomaram essa decisão…
2 thoughts
Madia. Por acaso, a investida da Coca-Cola não seria para competir com a linha da Skol Beats? Vejo que a linha da AmBev, voltada para a Geração Z, tem se consolidado cada vez mais.
É possível, Fabio, mas e mesmo assim… Obrigado, abraço, Madia.