A pandemia, como temos comentado com vocês, escancara o que funciona bem em tempos anormais, em relação ao que funcionava bem nos tempos da chamada normalidade. Lembram, nas comidas por delivery o que alguns chefes de cozinha descobriram e nós comentamos com vocês? Que alguns pratos funcionavam bem para viagem, e outros literalmente eram um desastre e convertiam-se numa gororoba. Os tais pratos bons para viagem…
Esse tipo de constatação com o passar das semanas foi revelando-se em todas as demais coisas, e em decorrência das mudanças compulsórias. Ou se passava a fazer de uma forma nova e possível, ou pura e simplesmente não se fazia. E isso impactou fortemente no ensino.
Saltamos do ensino presencial direto para o ensino a distância, que apenas e ainda e timidamente engatinhava, em tudo e para tudo como se esse milagre fosse possível. Bons professores em classe revelaram-se e revelam-se lamentáveis e entediantes no a distância. Mas, como não havia tempo, Zé virou José que virou Mané que virou Menelau… No início, e diante da surpresa e necessidade, todos os alunos, dos pequenos aos mais velhos foram engolindo.
Poucas vezes com prazer, algumas vezes com água e extrema boa vontade, e na maioria das vezes com raiva e revolta. Como se diz no popular, já que não tem Zé vai com Zezé mesmo, e conscientes que não adiantava reclamar, nem com os pais, nem os mais velhos com as escolhas, nem com o mundo e muito e menos ainda com Deus, os alunos decidiram proceder aos ajustes por conta própria. E assim foram desenvolvendo diferentes formas de tragar o intragável.
Conclusão, cada aluno passou a gerenciar o conteúdo que recebia a distância de acordo com sua disposição temporal e emocional. E uma nova prática foi prevalecendo. A de tentar corrigir em casa, as deficiências das aulas e dos professores. E milhares de alunos desenvolveram a técnica de acelerar aulas.
Como assim, perguntará você, o que é acelerar as aulas? Enquanto pelas limitações da pandemia a vida desacelerava-se, pelas chatices de muitos professores – heróis não têm culpa, não foram preparados e nem levam jeito – as aulas e o ensino virou uma espécie de bit acelerado, como cantava a música. Nas pesquisas realizadas muito especialmente com os jovens, a justificativa, ou, defesa… “A decisão de assistir as aulas no modo acelerado possibilita em primeiro lugar manter a atenção, e por decorrência, poupar tempo, e evitar, especialmente, o tédio, o sono, e que muitos terminassem as aulas do dia roncando com a cabeça sobre o teclado do computador…”.
Dentre as reportagens sobre o tema, uma espécie de metrificação do tempo, e dos supostos ganhos dos alunos. O depoimento de uma estudante de psicologia, Carolina Canellas, à Bruna Atimathea do Estadão. Declarou Carolina:
“Fico muito ansiosa para acabar as coisas logo, então adianto as minhas aulas para acabar rápido. Comecei acelerando o vídeo em 1,25x. Agora tem aula que assisto em até 2x. Acelerar em duas vezes significa que faço uma aula de uma hora em trinta minutos. Já quando a velocidade é 1,25x, uma hora dura 48 minutos…”.
É isso, amigos. Os novos Inocentes do Leblon, como um dia celebrou Carlos Drummond de Andrade, e que não viram o navio entrar… Os Novos agora acreditavam que era só trocar a roupa de professor por ator que tudo estaria resolvido, e aproveitando os mesmos roteiros e comportamentos do tempo das aulas presenciais. Armava a câmera, e dona Terezinha, querida professora de Taubaté, virava Fernanda Montenegro no ato… Cora Coralina dizia “feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”.
Em condições normais e verdadeiras é por aí mesmo. “No atual momento o que constatamos são professores tristes e contrariados porque não conseguem transferir o que sabem e, por decorrência, não aprendem o que ensinam…”.
Assim, o ensino presencial vai voltar. E o a distância concentrando-se não mais no aprendizado, mas na especialização e atualização. E já é muito. Ensino a distância, na formação e capacitação, só faz sentido se for absolutamente impossível o presencial. Assim, só em caráter excepcional e de tragédia ou calamidade. Se em termos de qualidade de ensino e no último ranking mundial de educação, o PISA (Programme for International Student Assessment) – o Brasil registrou um dos 10 piores desempenhos do mundo em matemática, e atrás de outros 50 em leitura, o Brasil despencou em ciência… Imaginem se o ensino fosse exclusivamente a distância… Chega de passar vergonha.