“Não dá mais para segurar, explode coração” … Lembram?

Era o que cantava Gonzaguinha em sua canção Explode coração… Milhões de profissionais em todo mundo, por timidez, desconhecimento, tirania dos chamados sindicatos e organizações profissionais que proibiam, milhões de profissionais nasciam e morriam calados, não comunicando suas competências e serviços, e assim, estavam condenados, e se condenavam, ao eterno esquecimento.

Pior que esquecimento, ilustres desconhecidos e ignorados. Os mais expertos, minoria absoluta, sempre encontravam uma maneira de realizar algum tipo de comunicação, e assim, com relativa facilidade, dominavam pequenos, médios e grandes territórios da prestação de serviços.

E aí o milênio chega ao fim, eclode a digisfera, multiplicam-se as redes sociais e plataformas de comunicação, tudo absolutamente acessível, e com o potencial pleno da autossuficiência. Os prestadores de serviços de comunicação correm para se reinventar, e enquanto não se revelam prontos e acessíveis, milhões de profissionais vão se virando. Tentam ser autossuficientes na comunicação. E assim, e hoje, anos 2020, todos, se comunicando, intensamente, ainda que com pouca ou nenhuma qualidade, e, para todos.

De milhares de advogados, que hoje morrem de rir das supostas “proibições da OAB” de que advogado não pode se promover, passando por médicos, arquitetos, engenheiros, cozinheiras, costureiras, psicólogos, escafandristas, numerólogos, cartomantes, cuidadores, sexólogos, prostitutas e prostitutos, religiosos, videntes, bandidos e golpistas, doceiras, verdureiros, massagistas… Nos últimos dois anos milhares de matérias e reportagens sobre as novas formas de se revelarem e fazerem vivos, de infinitos e diferentes profissionais liberais, e ou, autônomos.

Meses atrás, no Estadão, matéria assinada por Bianca Zanatta, trazia exemplos e depoimentos. Dentre outros, de uma jovem psiquiatra que defendia as chamadas novas práticas de se realizar a comunicação, mas denunciava os exageros. Dizia, “Temos que aceitar que as mídias sociais dão visibilidade e atingem públicos que não eram atingidos antes. Mas, vejo médicos fazendo tudo da mesma forma e de um jeito muito marqueteiro como vídeos no TikTok”.

Com a natural dificuldade das pessoas não verdadeiramente qualificadas no planejamento e execução da comunicação, e em seu depoimento, essa mesma psiquiatra, por exemplo, incidiu em algumas barbaridades, trocando, e ao invés de “acessar públicos”, por “atingir públicos”, seguramente não tendo consciência das barbaridades e atropelos que ela mesmo protagoniza. E, entusiasmada, aponta o dedo:

“O marketing médico é permitido, mas há vários profissionais que extrapolam esse limite. Sorteio de produtos, informações sem evidências científicas. É um show de horrores…”.

Já outras duas advogadas dão depoimentos na mesma direção. Uma diz que criou as páginas de seu escritório no “Feice” e LinkedIn com a intenção de facilitar o acesso de pessoas a seus serviços, e a outra que as redes sociais permitem a divulgação de serviços pouco conhecidos como alguns que presta: mediadora privada de conflitos, aplicativo para o gerenciamento da guarda compartilhada de filhos…

Ou seja, amigos, cada profissional independente, cada prestador de serviços, tem agora, a sua disposição, infinitos microfones as tais redes sociais — e podem falar com o mundo. E enquanto todos não fizerem suas tentativas, seguiremos no caos que hoje vivemos. Todos, sem exceção, e até os tímidos e comedidos, como repetia Gonzaguinha em sua música, “eu quero mais é me abrir, não dá mais para segurar, explode coração…”.

Quando todos, milhões, se comunicam, urram, gritam, ao mesmo tempo, ninguém ouve nada. A menos, que alguns se distingam da turba enfurecida, da manada barulhenta, e façam se perceber, diferenciar, e, por decorrência, ouvir.

Esse o desafio que neste momento vivem milhões de profissionais e prestadores de serviços em todo o mundo. Encontrar uma única pessoa, dentre milhões, que lhe dê um segundo que seja de atenção…

Mas, muito melhor, mais justo, verdadeiro, ter a possibilidade de tentar ainda que sem sucesso, do que permanecer condenado ao anonimato e ignorância, como era o mundo até anos atrás.

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