Apostas arriscadas, ou, o certo na hora errada

Vez por outra, algum grande empreendimento imobiliário na cidade de São Paulo gera grandes expectativas e provoca impacto colossal.

Décadas atrás, anos 1970, o Portal do Morumbi, do visionário Alfredo Mathias, afrontou tudo o que se sabia sobre imóveis residenciais. Insinuou o conceito de condomínio clube. O projeto certo muito antes de seu tempo. Levou quase duas décadas para ser vendido, criou problemas para seu financiador Unibanco, e 20 anos depois era o empreendimento mais cobiçado, valorizado e imitado da cidade de São Paulo. Tornou-se benchmark, referência, e centenas de condomínios clubes multiplicaram-se pelo Brasil.

O mesmo aconteceu recentemente com o empreendimento da vida da Tecnisa, o Jardim das Perdizes. Que, infelizmente, começou sem necessidade diante da qualidade do empreendimento, fazendo uma lamentável gambiarra. Localizando, nos anúncios e comerciais, no simpático e valorizado bairro de Perdizes, rebatizado de Nova Perdizes, um empreendimento que de verdade está localizado num bairro mais emblemático ainda, e de maiores tradições, a mais que querida e legendária Barra Funda.

Costumavam dizer nossos avós que quem renega os seus degenera, e aparentemente isso aconteceu com o Jardim das Perdizes. O empreendimento certo, que por, e fatalidade, decolou na hora errada. E quase arrastou a Tecnisa junto.

E no ano passado, 2020, e finalmente, um mega empreendimento engasgado há mais de 10 anos, finalmente é lançado.

Sob a denominação de Parque Global. Um terreno gigantesco, na Marginal Pinheiros, de 121 mil metros quadrados, com um VGV – valor geral de vendas – que totalizará, caso se realize, R$ 8 bilhões.

Cinco torres residenciais, shopping center, mais complexo de saúde, mais hotel, assinado e sob a responsabilidade do Grupo Bueno Netto, com uma série de importantes parceiros. Ameaçou decolar em 2013, as primeiras torres residenciais foram lançadas, mas o empreendimento foi embargado.

Dois elevadíssimos riscos no empreendimento. Não pela magnitude. O primeiro, conjuntural, chega ao mercado exatamente em meio à pandemia. O que, em nosso entendimento, coloca em questão e muito a localização do mega terreno. Na Marginal Pinheiros, a poucos metros do rio poluído, e com permanentes reclamações das torres vizinhas sobre as nuvens de pernilongos e outros insetos. Ainda que a prefeitura prometa um rio limpo e navegável até o final de 2022.

Mas a segunda, e mais preocupante de todas, a estrutural. Um mundo novo em processo de construção, devastado pela disrupção tecnológica, e onde esse tipo de empreendimento tem tudo a ver com o passado, e nada, absolutamente nada a ver com o futuro. Das empresas, das famílias, e dos viajantes e turistas.

Tomara, pela dimensão do empreendimento, que nós, consultores da MADIA estejamos enganados em colocar tantas dúvidas sobre um eventual sucesso do Parque Global.

A propósito, o naming, a denominação escolhida, não faz jus à ambição do empreendimento.

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