Autor: Francisco Madia

Negócio

Vivendo de bico

Dentre as chamadas novas profissões decorrentes do tsunami tecnológico, que provocou a disrupção dos sistemas convencionais de prestação de serviços, duas em especial, o de transporte de passageiros e de comida pronta, traduzem-se, na solução encontrada para as pessoas sobreviverem e pagarem as contas. E as duas, emblematicamente representadas em duas empresas, ou marcas, que se converteram em designações do fenômeno: “uberização”, ou “ifooderização…” Se alguém ainda tinha alguma dúvida sobre essa nova realidade, a entrevista de Diego Barreto, sucessor do Fabricio Bloisi no comando do iFOOD, e à Veja Negócios, é mais que esclarecedora. Em determinado momento da entrevista, e falando sobre as pessoas que prestam serviços através do iFOOD, Diego disse, “A maioria dessas pessoas não têm o iFOOD como fonte de renda principal, mas como um complemento da renda. Muitos pensam, “Poxa, este mês faltou grana para pagar a conta de luz. Vou trabalhar no aplicativo por algumas semanas e pronto…”. Às vezes nem voltam porque têm outros empregos. Quase 70% mantêm esse tipo de relação com nossa plataforma. Assim, não querem contribuir para a previdência a partir do que ganham com a gente, mas sim de seus outros trabalhos”. E, perguntado por Veja Negócios qual seria a solução para esse conflito, sob a visão do iFOOD, Diego respondeu, “Acredito que o Brasil já resolveu problemas semelhantes, como no caso das empregadas domésticas. Se uma pessoa trabalha três dias na sua casa e um dia na minha, não faz sentido a gente contribuir igualmente se as relações são totalmente diferentes. É plenamente possível considerarmos um modelo progressivo: quem trabalha menos e ganha menos contribui pouco, quem trabalha mais e ganha mais faz pagamentos maiores…”. E por aí vai. Em passado recente bico era uma prestação de serviços genérica. Hoje, com a disrupção digital, com a tecnologia, com os smartphones, com a angústia decorrente de todas essas possiblidades que hoje pertencem às expectativas nossas, consumidores modernos, e que queremos tudo da maneira mais prática e no menor tempo possível, o bico institucionalizou-se através de diferentes plataformas, e vem sendo um amortecedor ainda que precário, da crise social que seguimos mergulhando em decorrência do fim dos empregos. É o que temos, por enquanto…
Negócio

Sanha empreendedora

Quem nasce com o vírus e a energia empreendedora segue assim até o fim. Não obstante todos os tropeços, eventuais crimes e ilegalidades, acusações e críticas, Mário Bernardo Garnero, 87 anos, e Eike Batista, 68, acabam de assinar protocolo comprometendo-se a uma série de novos e relevantes projetos em conjunto. Tinham todas as razões, para como se costuma dizer, “sossegarem o facho”. Mas, não conseguem. A energia empreendedora é mais forte. A esses dois malucos, e aos milhões de outros mais, micro, macro, mega empreendedoras, todas as minhas homenagens e reconhecimento. Sem eles não teríamos o carro, as vacinas, as pontes, o smartphone, as roupas, as casas, os shoppings, ruas e avenidas, a paçoquinha, o milho cozido, o caldo de cana, o pastel, Frank Sinatra no Maracanã, o Rock in Rio e agora, o Imagine, o novo empreendimento de Roberto Medina, 77 anos. Um empreendimento que segundo cálculos da FGV terá um impacto econômico anual na economia de mais de R$ 9 bi, mais de 274 bi em 30 anos, gerando 143 mil novos empregos. Medina, Garnero e Batista, não obstante os eventuais e naturais tropeços e escorregões inerentes ao ato de empreender, são algumas das melhores referências para todos os jovens brasileiros. Assim como Gorki Starlin Oliveira. Num mercado – o de livros – onde quase todos os movimentos são de retração e quebras, uma exceção. Gorki Starlin da Costa Oliveira, que em 2002 criou a Alta Books, editora de livros de computação e negócios, e segue sendo salvo raríssimas exceções, o último dos empreendedores a acreditar nos livros de papel. Desde então, e em pouco mais de 20 anos, converteu-se no Grupo Alta Books, pós sucessivas aquisições, totalizando 16 selos diferentes, e um catálogo com mais de 4 mil títulos. Uma espécie da Velhinha de Taubaté, personagem emblemática de Luis Fernando Veríssimo, a última a acreditar nos governos militares. Gorki, salvo poucos e raríssimas exceções, é um dos últimos editores do país, a acreditar no livro de papel, mesmo com o debacle da FNAC, Cultura, Saraiva, Laselva, dentre outras. No domingo, 8 de setembro, Gorki, generosamente, escancarou números e detalhes do desafio que os sobreviventes, e os novatos no território, vêm enfrentando, em entrevista a Ruan De Sousa Gabriel, de O Globo. “Em 2018, com a recuperação judicial da Saraiva e da Cultura, percebemos que o número de livrarias ia diminuir, as lojas iam ficar menores e haveria menos prateleiras para livros de computação e negócios. Os livros técnico-científicos representavam metade de nosso faturamento. Nossa estratégia foi apostar na bibliodiversidade comprando editoras pequenas e médias de outras áreas. Hoje, em todas as prateleiras, há livros de nosso catálogo…”. E, na sequência, foi revelando as táticas de sua estratégia, ‒ “Compramos editoras porque não compramos apenas o catálogo, e sim, toda a experiência de erros e acertos ao longo de anos…”. ‒ “Honramos tudo o que está contratado e procuramos manter o editor na mesma posição para planejar o catálogo para os anos seguintes. Se ele decide sair, procuramos um profissional com o mesmo perfil para substituí-lo”. ‒ “Com o fechamento de livrarias percebemos que os espaços iam diminuir. Assim, compramos editoras para não só expandir o catálogo como também para brigar por prateleira e dar continuidade a projetos editoriais que pareciam inviáveis na nova configuração do mercado”. ‒ “De nosso faturamento 60% vêm de livros de negócios e desenvolvimento pessoal, 15% de técnico-científico, e os 25% restantes de literatura e gastronomia… e, um terço de nosso faturamento vem da Amazon… mas, para lançar um livro ainda precisamos de livrarias. No meio de tanta informação na tela, ninguém vê o lançamento…”. Ele, Gorki Starlin Oliveira, talvez o último dos editores de um negócio próspero durante décadas, e que mergulhou de cabeça e de forma irreversível na chamada Cauda Longa. São os malucos que giram a roda da economia, produzem riquezas, criam empregos, e assumem os riscos de quebrar e serem execrados por todos os demais. Mas a energia interior, a sanha empreendedora, é mais forte… Thanks God! God Bless You!
Blog do Madia

Diário de um Consultor de Empresas – 08/10/2024

Efêmeras e frágeis as posições de lideranças das Empresas da Nova Economia.
Blog do Madia

Diário de um Consultor de Empresas – 05, 06 e 07/10/2024

Situação dos três principais jornais do país, simplesmente, desesperadora…
1
Blog do Madia

Diário de um Consultor de Empresas – 04/10/2024

Declarações de um empresário de sucesso quase dois anos depois das eleições.
1
Blog do Madia

Diário de um Consultor de Empresas – 03/10/2024

XP. Amadurecimento e segurança decorrente do Sucesso.
Blog do Madia

Diário de um Consultor de Empresas – 02/10/2024

Nas compras de hoje, tão ou mais importante que o preço, o tempo de entrega…
2
Negócio

Geração Z, de “anziozos”, cuidando de velhos e obesos

Estadão, 16 de agosto de 2024. Chamada de capa “Número de jovens internados por ansiedade sobe 136% em 10 anos”. Mesmo não sendo médico tinha total certeza que isso ia acontecer. Os nascidos de 1995 para cá encontraram um mundo radicalmente diferente de seus pais e avós, e ainda em processo de formação. Foram crescendo na medida em que esse mundo evoluía, aceleradamente. Assim, a chamada Geração Z não tem absolutamente nada a ver com as que a precederam. Pais e avós aquietados com “pacifiers” – chupetas. Geração Z, aquietada com smartphones… Assim, mais que óbvio que existe uma brutal discrepância entre o sentido de tempo e ritmo que tem em si, e o sentido de tempo e ritmo das pessoas que as rodeiam e amam. Todos, amor, compreensão e paciência. Segundo o Ministério da Saúde, nos últimos 10 anos os registros de internações relacionadas a estresse e ansiedade mais que dobraram, 136%. Segundo a coordenadora do estudo sobre a ansiedade na Universidade Federal de Uberlândia, Luciana Saraiva, hoje, em Minas Gerais, 60% dos estudantes revelam muitos graus acima das médias anteriores de ansiedade. As pessoas, muitas, colocam a culpa no smartphone, nas redes sociais, e em outras manifestações e gadgets. É muito mais profundo. Como tenho comentado com vocês a causa é Estrutural. O tsunami tecnológico que destruiu o mundo onde nós, mais velhos nascemos, dando lugar, e em processo de construção, um mundo absolutamente novo. Nós, mais velhos, não sentimos tão fortemente embora o nosso grau de ansiedade tenha aumentado, também, porque fomos nos adaptando, em paralelo às mudanças que iam acontecendo em nosso entorno. Diferente da geração Z que quando abriu os olhos o caos já estava instalado, e olhavam para nós e não entendiam, como seguem não entendendo, porque nos comportamos do jeito que nos comportamos… É isso, amigos. Os chamados gadgets – computadores, tablets, smartphones, e outros, são a ponta do iceberg. O iceberg de verdade é o tsunami tecnológico, a crise estrutural e não passa daqui a pouco. Só cresce, acelera, e prevalece… Isso posto, e Repetindo, paciência, amor, compreensão… Enquanto isso, nós… e além de…Velhos… Obesos! Em poucos anos a população do Brasil passa por um envelhecimento radical, e a caminho de um crescimento espantoso da obesidade. Em síntese, uma maioria de velhos e obesos. Sobre o envelhecimento todos os dias as plataformas repercutem os resultados do Censo, onde segue despencando o número de filhos por casal, enquanto vivemos mais, e assim, o envelhecimento da população é definitivo, irreversível, e, acelerado. Agora a informação é de que caminhamos inexoravelmente para a obesidade. Dentre centenas de informações separei a do Doutor em Endocrinologia pela Faculdade de Medicina da USP, Antonio Carlos do Nascimento. Em artigo em O Globo, e onde diz, “A Obesidade não tem cura mas é tratável”, ou seja, tudo o que podemos ambicionar é convivermos em paz e harmonicamente com nossa obesidade. Diz Antonio Carlos do Nascimento, “Estudo recente projeta que a população brasileira crescerá apenas até 2041, enquanto outro levantamento elaborado pela Fiocruz concluiu que metade dos brasileiros será obesa em 2044. A primeira sacramenta a perda definitiva do bônus demográfico, e a segunda a prevalência da obesidade entre adultos, de 11,8% em 2006, para 22,4% em 2021. O mais trágico dessa análise que faltou iluminar a terceira e cruel decorrência, Velhos, Obesos, e, Pobres! Mais velhos e mais obesos, aceleram-se as necessidades de mais recursos para a saúde, o que significa mais impostos, e jogar a renda média do brasileiro para baixo. Talvez, e numa espécie de premonição coletiva, é o que faz da chamada Geração Z, a quem sobrará essa conta, tão desproporcionalmente ansiosa, ou como se brinca hoje, “Anzioza”, em relação às gerações anteriores. Curto e grosso, sem querer ser alarmista ou trágico. Está ruim e difícil, e mais para frente, vai ficar pior. Não colhemos o tal do bônus demográfico quando devíamos, mas nossos filhos e netos arcarão com os ônus da velhice e da obesidade. Em termos estruturais, esse, de longe, o maior desafio do marketing dos próximos anos…O desafio das empresas adequarem-se a uma nova realidade. A um mercado menor, obeso, e pobre… Por favor, não me venham dizer que sou pessimista…
Negócio

Os elevados riscos do chamado naming rights

Os riscos de uma empresa, produto, instituição, depositar ou conectar o sucesso, valor e brilho de sua marca a uma outra pessoa, é sempre muito elevado. Porque pessoas são mortais, e susceptíveis das derrapadas, fracassos, e cometimentos de crimes. O mesmo acontece em relação a obras, prédios, estádios, teatros, times de todas as modalidades de esportes e muito mais. No dia da decisão da compra dos direitos sobre a marca tudo é ótimo. Horas depois, tudo pode converter-se num pesadelo. Neste preciso momento uma organização inovadora, revolucionária, disruptiva, assumiu riscos desproporcionais e desnecessários depositando sua marca para abençoar e reverenciar o estádio municipal do Pacaembu, e ainda cometendo a imprudência e temeridade de comprar uma propriedade que, eticamente, jamais poderia ser vendida: Uma edificação, Pacaembu, que já tivera seu naming rights concedido a uma pessoa, o Marechal da Vitória Paulo Machado de Carvalho. Pois bem, e como ensina a vida e a música, pau que nasce torto não tem jeito morre torto, o Mercado Livre depositou suas conquistas e realizações – de forma eticamente mais que discutível – a uma obra que desde seu anúncio já incomodava toda a vizinhança e as demais pessoas que prezam instituições, acreditando que o combinado, prometido e contratado seria entregue. E assim não foi. Toda semana uma nova surpresa péssima em relação às obras do Pacaembu que não terminam nunca, e os adiamentos seguem sucedendo-se. Sábados atrás o Estadão anunciava mais uma trapalhada para dizer o mínimo. “Quase sete meses após a primeira previsão de inauguração o estádio do Pacaembu – agora rebatizado de Mercado Livre Arena Pacaembu – continua sem uma data prevista para seu primeiro jogo oficial. E revela, Pacaembu tem nova rachadura enquanto segue com obras atrasadas”. Aconteça o que acontecer, e independente da análise de mérito se fazia algum sentido sob o viés e ótica do MEQ – Marketing de Excepcional Qualidade – o Mercado Livre ter comprado o naming rights do Pacaembu, pura e simplesmente uma organização moderna, de conquistas extraordinárias, e benchmark obrigatório para as novas empresas que estão nascendo, cometeu um erro crasso e bisonho. E, ao invés de agregar pontos positivos a sua marca mais que consagrada, só cria desconforto, constrangimentos e, porque não dizer, vergonha.
Negócio

Decisões na emoção do momento

Talvez, provavelmente, certamente, com certeza, muitas decisões, em especial as que mexem com a essência da empresa a partir de sua denominação, deveriam ser tomadas passado o vendaval das conquistas e celebrações. Em situação de calma, normalidade, consciência plena, e lucidez. Mas, não necessariamente é assim que acontece. Recentemente testemunhamos a derrapada monumental da Mondelẽz, não pelo valor que despendeu, mas pela escolha que fez de suportar todo o seu investimento num trocadilho pífio e irrelevante: MorumBis, enfatizando da pior maneira possível um de seus produtos e marca legendário. A decisão foi tão tola, para não dizer o mínimo, que em muito pouco tempo, hoje, meses depois, as pessoas retomaram a forma de falar a denominação do estádio do São Paulo. Apenas, e como de verdade é, Morumbi. Agora, e no mês de maio, diante de um grande negócio, da fusão da Arezzo&Co com o grupo Soma, outra decisão precária que brotou em momento de forte emoção. Conforme o noticiário da imprensa, “O novo nome, Azzas 2154 SA, faz alusão ao mantra recitado por Alexandre Birman controlador do grupo nas reuniões – Arezzo Rumo A 2154, pensando na perpetuação da empresa…”. Definitivamente, e em algum momento, a denominação será reconsiderada. Ou não, mas, deveria. A duplicidade de ZZs remete a outras e trágicas recordações, e 2154, além de absurdamente distante, e até por isso, não quer dizer nada. Na medida em que é o controlador do grupo, não havia necessidade de defenestrar uma marca conhecida e consagrada, e assim, Arezzo deveria ter permanecido. Talvez com o tempo isso acabe acontecendo. Mas, em meio a fortíssimas emoções, muitas vezes não consegue se respirar fundo, conter o entusiasmo, e tomam-se decisões que só deveriam acontecer em momentos de absoluto equilíbrio e total lucidez.
1