Philipp Schiemer, presidente da Mercedes-Benz Brasil e América Latina, chegou ao Brasil para assumir o comando da empresa às vésperas da maior crise de todos os tempos da indústria automobilística. No ano de 2013. Nos dois anos seguintes o negócio todo de automóveis, caminhões e ônibus em nosso país mergulhou em direção ao abismo. Em muitos momentos, nos anos de 2016 a 2017 a ociosidade nas fábricas chegou a bater nos 80%!
Depois de muito trabalho, Philipp retorna à Alemanha, onde, e a partir do meio do ano, assume a chefia mundial de marketing, vendas e serviços ao cliente do negócio de ônibus da empresa. Assim, e ao partir e retornar à base carrega consigo uma experiência extraordinária sobre nosso país, e que, seguramente, entender o Brasil, é tarefa das mais difíceis, até mesmo para nós que aqui nascemos e vivemos.
Assim, e sempre que um presidente ou CEO de uma empresa retorna à matriz ao seu país de origem, procuramos ler, ouvir e analisar suas entrevistas dos últimos meses no Brasil, e onde vai arrumando as malas, e passando informações da maior relevância para todos nós. Numa espécie de – Brasil sob a ótica de profissionais estrangeiros mais que qualificados.
Separamos de algumas de suas entrevistas comentários que, em nosso entendimento, são da maior importância e aprendizado para todos. De como somos e como é nosso país, sob o olhar isento de um viajante ou morador temporário, ainda que por aqui tenha permanecido, no caso do presidente da Mercedes, 7 anos.
Sobre os desafios de uma empresa estar no Brasil – “É muito complicado produzir e vender no Brasil. Começa que é um país caro. Muito caro. A infraestrutura é um problema e acarreta em custos adicionais. O sistema tributário, então, arcaico e não competitivo. O único país que conheço onde exporta impostos junto com seus produtos. Assim, só desvantagens do início ao fim do processo…”;
Custo da incompetência e burocracia – “Talvez um exemplo ilustre melhor a situação patética do País. O frete de um produto da Índia para o Peru, para um determinado produto, sai por US$ 900. O mesmo produto, do Brasil para o Peru, US$ 1,5 mil. E tudo agravado pela dimensão da burocracia que acarreta necessidades de mais tempo para fazer desde as coisas mais simples…”;
Sobre o crescimento dos últimos dois anos – “Que ninguém se iluda. O crescimento, claro, é positivo. Mas, em verdade, mais que crescer, estamos saindo do buraco. Pela dimensão e potenciais do País, num ano normal de mercado, entre 150 a 200 mil caminhões deveriam ser vendidos. No ano passado esse número foi de 100 mil unidades. Mesmo melhorando bastante…”;
Motivação para a renovação das frotas – Até isso no Brasil é contrário ao que acontece em outros países. Nos outros, quanto mais velho o produto, mais impostos paga porque polui mais e danifica mais as estradas. No Brasil quanto mais velho menos paga. Assim, chegamos lá: uma frota com uma idade média de 20 anos, contra os 6 anos de média na Europa;
O melhor do Brasil neste momento – A infraestrutura ainda é um problema, mas é onde vemos mais avanços. Mesmo não totalmente perceptível, mas, de verdade, as estradas estão melhorando. O governo está investindo e o Ministério da Infraestrutura está conseguindo fazer grandes obras… Como por exemplo, o corredor que liga Rio Grande do Sul ao Pará. A BR-163. Onde boa parte da safra é escoada e agora se encontra asfaltada. “Uma viagem de cinco dias está se reduzindo a metade…”;
O que leva do Brasil – “Mudar, depois de sete anos numa mesma posição, é relativamente normal dentro de uma grande empresa. De tudo o que levo, a experiência decorrente de um mercado absurdamente volátil, e que mais que qualifica um profissional. E o credencia a novos e maiores desafios”.
Philipp Schiemer, despedindo-se da presidência da Mercedes-Benz Brasil, e a caminho da liderança mundial do marketing de ônibus da empresa. Mais que na hora de darmos um jeito em nosso país. Claro, assim que começar a baixar a poeira da coronacrise.