Todos os dias, desde o final de maio de 2020, todos os dias, milhares de empresas em todo o mundo anunciam cortes em seu capital humano.

Umas cortam 10%, outras, 20%, outras 30%. Ou mais. De seu capital humano. Além das que fecham as portas, encerram as atividades, e não têm o que e nem quem cortar.

Assim, e com raríssimas exceções, todas cortam. Em todos os sentidos e direções. E o sentimento é péssimo para os dois lados. Das empresas que despedem, e dos profissionais que são despedidos, e ainda uma terceira parte, os que sobrevivem, que têm consciência e angustiam-se na medida em que poderão integrar as próximas listas se a situação não se reverter o mais rápido possível. É difícil todos entenderem que, e desta vez, ninguém tem culpa.

Isso também aconteceu há mais de 500 anos, nos tempos dos navegadores. Chamava-se latitude dos cavalos. Os navios a vela eram equipados com tripulantes, e abastecidos de água, mantimentos, e cavalos, e lançavam-se mar adentro na esperança de novas e importantes descobertas. No meio do oceano os navios paravam. A tal da calmaria. Passava um dia, dois, 10, duas semanas e o pânico começava a bater. Mais duas semanas e sucediam-se as reuniões sobre que providências tomar. Invariavelmente a decisão era lançar os cavalos ao mar. Procurando economizar ao máximo a alimentação e a água restante.

Lançados ao mar os cavalos levavam horas, até mesmo dias para afogarem-se. E não conseguiam dissimular a dor e o sofrimento. Emitiam um som de lamento de dilacerar corações e mentes. Os marinheiros que testemunhavam essa cena passavam os anos seguintes acordando nas madrugadas pelos gritos dos cavalos permanentemente presentes em seus sonhos e recordações.

Estamos diante de uma tragédia. Apenas isso. Não se estão avaliando qualidades, competências, desempenhos. Vivemos uma espécie mais que dolorosa de latitude dos humanos. Apenas tendo que realizar cortes na tentativa desesperadora de preservar alguma coisa, e por onde, mais adiante, as empresas vão tentar algum tipo de recuperação.

Dentre as despedidas que alcançaram maior repercussão foi a do mega-unicórnio Airbnb, até ontem cantada em prosa e verso pelo seu espetacular sucesso, e que não para de sangrar. Coube a um dos fundadores comunicar a necessidade e a decisão.

O Airbnb nasceu a partir de uma circunstância. No ano de 2008, Quando três amigos precisavam ganhar um dinheirinho para pagar as contas, e ofereceram para alugar o espaço disponível que tinham no apartamento que compartilhavam na cidade de San Francisco. Conseguiram, converteram a experiência num aplicativo, e que, 12 anos depois converteu-se numa das empresas mais prósperas e festejadas da nova economia. Os três amigos, Brian Chesky, Nathan Blecharczyk e Joe Gebbia. Menos de 10 anos depois estava avaliada em mais de US$ 30 bilhões.

Coube a Brian Chesky dar a péssima notícia. Como vem acontecendo na maioria das empresas pelo fato das distâncias, e em decorrência da pandemia ter aumentado, a comunicação foi realizada a todos, num mesmo momento, e por vídeo. Chesky começou dizendo:

“Tenho profundo amor por vocês. Nosso trabalho preocupa-se em fazer com que as pessoas se sintam confortáveis num lugar adequado, e no centro de tudo isso encontra-se o amor…”.

Em minutos, 25% do capital humano do Airbnb estava despedido: dois mil colaboradores. Quase todos os dois mil entenderam, ou disseram entender o que aconteceu. Duas dúzias, no entanto, não conseguiram dissimular suas decepções com o Airbnb. Kaspian Clark, 38 anos, que trabalhava numa área de suporte da empresa em Portland, no Oregon, não disfarçou sua decepção:

“Sinto-me, como outros companheiros, profundamente decepcionado e traído pela empresa. Espero que a Airbnb consiga ser um dia como eu sempre acreditei que fosse…”.

Ou seja, amigos, e em situações como a que estamos vivendo com essa pandemia, só existem perdedores. Tudo é compreensível, desde que, não aconteça comigo…

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