Milhares de cidades pelo mundo dependem de algum tipo de fluxo. No final, claro, tudo bate no fluxo de pessoas, mas, para que ocorra o fluxo de pessoas faz-se necessário que outros fluxos continuem em pé e existindo. Fluxo de produtos, de mercadorias, de serviços, de efemérides, de manifestações, de acontecimentos e muito mais.
Para muitas dessas cidades, o adensamento e a diminuição do fluxo faz parte da rotina. Em países, por exemplo, que convivem com temperaturas muito baixas, algumas cidades, e alguns de seus negócios, permanecem abertos poucos meses do ano. Três, quatro, seis, no máximo. E depois fecham porque não vem ninguém.
E ainda outras trabalham com meia força durante parte do ano, e força total nos demais meses. E muitas dessas cidades, em algumas semanas, permanecem, como se diz em inglês, sold out, com suas ocupações totalmente vendidas.
Isso acontecia e provavelmente seguirá acontecendo em nosso país depois da pandemia, quando a pandemia partir. E assim, e na maioria das cidades de turismo do Brasil, a clássica semana entre natal e ano novo revelará todas as suas possibilidades de turismo e hospitalidade vendidas, as cidades abarrotadas, repetimos, quando a vida voltar.
Em plena pandemia, dentre os exemplos mais chocantes, o da cidade da padroeira do Brasil, Aparecida. Literalmente, e com a pandemia, o fluxo descomunal de turistas àquela cidade, a da Santinha, secou. Uma cidade com milhares de pequenos empresários que viviam da presença quase que permanente dos fiéis, com pico nos finais de semana, e até semanas atrás, e, literalmente, às moscas.
Fazendo com que o prefeito da cidade, Luiz Carlos Siqueira, do Podemos, e mais conhecido como Piriquito, afirmasse, em entrevista ao Estadão, “Aparecida está Economicamente Destruída”.
Dois números traduzem a importância econômica dos fiéis para a cidade. São 37 mil habitantes que dependem – ou dependiam – dos 13 milhões de fiéis que vêm tomar bênçãos da Santinha a cada novo ano. Dos 2,5 mil comerciantes e 600 vendedores ambulantes que trabalhavam todos os dias na cidade, e pagavam licença na prefeitura, no pico da pandemia restavam meia dúzia; dos 150 hotéis menos de 10 permaneciam abertos; e o desemprego na cidade ultrapassou os 80%.
Segundo o prefeito Piriquito, “Aparecida quebrou!” Assim, e dentre as marcas do Covid-19, uma das mais fortes traduz-se em, O Dia em que Aparecida quebrou.
A padroeira do Brasil, a imagem da santinha, que um dia foi encontrada por três pescadores, Domingos Garcia, Felipe Pedroso e João Alves, no mês de outubro do ano de 1717, no rio Paraíba do Sul, pesando 2,5 quilos, com 36 centímetros de altura… Da primeira vez que jogaram a rede veio uma imagem sem cabeça, poucas redes depois encontraram a cabeça.
Depois da pandemia, assim como a imagem da Santinha, a cidade de Aparecida precisará ser resgatada… E a cidade quebrada, ter todas as suas partes coladas, assim como a imagem da Santinha, e, reconstruída… Oremos, irmãos…