O ambiente econômico em nosso país é muito mais que inóspito, é estúpido, patético, diabólico, boçal.
Décadas atrás Billy Blanco compôs a música Piston de Gafieira. Que traduz com incomum precisão o momento que vivemos no ambiente dos negócios em nosso país. Neste exato momento, vivemos o que acontece na música de Billy Blanco, quando o pau começa a comer:
“A porta fecha enquanto dura o vai não vai. Quem está fora não entra, quem está dentro não sai”.
Os custos financeiros, de tempo, de burocracia, de taxas e impostos, de nervos, de sofrimento, são de tal ordem que só um idiota alucinado arrisca empreender no Brasil. Ou seja, e como na música de Billy Blanco, “Quem está fora não entra”.
E por que chegou a essa situação? Porque o Brasil tem um Estado monumental. De longe o maior do mundo. E que não para de crescer. A cada novo mês precisa de mais ração, Leia-se, dinheiro, e as vaquinhas leiteiras, empresas privadas e pessoas físicas, nós, vão sendo esfoladas ano após ano. Muitos dirão, mas Madia, os impostos de pessoa física não aumentam há muitos anos. Sim aumentam. Todos os anos.
E qual o truque a que o monstro estado recorre. A não corrigir a tabela – o que é de seu dever e obrigação – e como deveria ter feito nos últimos 24 anos. Assim a defasagem na tabela do IR de pessoa física é de 113,09%. Desde 01 de janeiro de 1996, que a tabela não é atualizada. Na medida em que não é corrigida, em termos práticos significa que está sendo aumentada. Em 113,09%! Em duas décadas, e independente da faixa de nossos rendimentos, pagamos hoje mais do dobro do que pagávamos 20 anos atrás.
Durante a campanha presidencial Bolsonaro disse que iria ampliar a faixa de isenção do Imposto de Renda das pessoas físicas. E corrigir uma parte desse absurdo. Nem vai ampliar, e nem vai corrigir o que quer que seja. O rombo nas contas públicas – leia-se Estado – que não parava de crescer, com a pandemia escalou e o buraco que já era grande agora é descomunal. Ou seja, se alguém ainda pretende empreender e continuar morando no Brasil, recomendo empreender nos países vizinhos, muito especialmente o Paraguai.
Todo esse comentário sobre a primeira parte do verso do Billy Blanco, quem está fora não entra. Ou, se tiver juízo, jamais deveria entrar. E agora, o quem está dentro não sai. Não sai não porque não tenha essa possibilidade. É porque para encerrar qualquer atividade por aqui é tão difícil e caro quanto para abrir e começar. Ocupando todas as manchetes semanas atrás o encerramento de atividades de mais uma montadora. A FORD, que deixa o Brasil depois de mais de 100 anos.
Assim, e nos primeiros dias, e como era natural, toda a preocupação com os funcionários da empresa em suas fábricas que perderão o emprego e ainda vão discutir os valores de suas dispensas. Agora a imprensa e as pessoas descobrem que montadoras têm rede de revendedoras.
A FORD, por exemplo, tem 285 no Brasil, e, pela legislação vigente, a chamada Lei Renato Ferrari, a menos que a FORD se declare falida, terá que indenizar todas as revendedoras.
Ou seja, fechar é complicado, em termos de burocracia, e custa caro, muito caro. Pela Lei Renato Ferrari, cada uma das revendedoras tem direito a uma indenização correspondente a um determinado percentual sobre o faturamento anual de cada revenda, e um valor adicional para cada cinco anos de contrato.
É isso, amigos. Quem está fora não entra a menos que seja maluco de pedra, e quem está dentro, não consegue saltar fora.
Enquanto não recriarmos – não adianta reformar o tal do Estado Brasileiro – a maneira de regular e organizar nosso mercado, chances zero de construir-se qualquer Brasil com um mínimo de atratividade para empresários e empresas de qualidade.
Chegamos ao fundo do poço e ainda queremos, insistentemente, e ao recusar e negar a realidade, mergulhar mais fundo ainda.