Reed Hastings, no ano da pandemia, lançou seu livro e que traduz, em seu título, a maneira como vê a vida e os negócios. Seu livro tem como título, “A Regra é não ter Regras”.
E semanas atrás, e diante das produções de sua Netflix terem batido todos os recordes de indicações para o Oscar – de uma única no ano de 2014, a primeira delas, para 35 de 2021 – concedeu histórica entrevista à Veja, revelando o que é ser, de verdade, um novo líder, ou, um líder moderno.
Apenas lembrando, Hastings começou apostando na decadente indústria de locação de filmes mediante entrega de DVDs. Enquanto a hoje falida Blockbuster dominava a cena abrindo lojas pelo mundo, Hastings colocou todas as fichas numa tecnologia nova, a do streaming, apostando na escalabilidade da internet em dimensão e velocidade, mas precisava de dinheiro para colocar sua crença em prática.
E assim, foi buscar dinheiro na velha e debilitada indústria de locação de filmes, no analógico, montando uma máquina descomunal e inovadora de locar filmes a distância, em todo o país – Estados Unidos –, ganhando muito dinheiro durante bons anos e enquanto a Blockbuster afundava, e colocando esse dinheiro no conhecimento e domínio de um negócio que tinha como base o streaming, daí nascendo e prosperando a Netflix.
Repetindo, no início, essa poderosa Netflix de hoje, ganhava dinheiro com os velhos e bons DVDs entregues na casa dos americanos pelo correios, e perdia dinheiro investindo no streaming.
Hastings e seus sócios estavam certos. Assim e agora, devidamente consagrado, tendo sido o principal construtor do novo território para onde e gradativamente foram nascendo novas empresas, e mudando-se todas as demais sobreviventes da velha indústria cinematográfica, vê suas produções tomarem conta das principais premiações em todo o mundo.
Isso posto, o que de tão fantástico disse esse líder moderno, Hastings, em sua histórica entrevista à Veja? Falou, por exemplo, sobre:
- O Brasil, nos aprendizados da Netflix – “Aprendemos muito com os brasileiros. O País foi nossa primeira aposta fora da América do Norte. O hábito de ver o que quiser, na hora que quiser e no aparelho de sua preferência caiu no gosto das pessoas de todas as regiões do Brasil. O brasileiro vê filmes em todas as línguas. É impressionante como vocês são um povo aberto…”.
- O fim dos cinemas – “O efeito da Covid-19 sobre a audiência do streaming é mais modesto do que se imagina. Quando o coronavírus for superado, as pessoas vão voltar a frequentar bares, eventos esportivos, teatros e cinemas. São formas de entretenimento de aproveitar junto com outras pessoas…”.
- 35 indicações para o Oscar – “Nosso negócio é contar boas histórias. E é nisso que nos concentramos. Começamos toda a produção original contemplando e respeitando o ponto de vista das pessoas. É fundamental estar atento e respeitar o que as pessoas adoram compartilhar e falar a respeito. Quando fazemos isso direito, o público se identifica e os eleitores da academia de cinema reconhecem. Prêmio e indicações são decorrência…”.
Almodóvar diz que as produções das plataformas de streaming não são cinema de verdade…? “De certa forma concordo com ele. Mas, na prática, a maioria das pessoas acaba vendo os filmes em suas casas. E as duas formas de ver filme podem conviver em harmonia. Mas apenas através do streaming é possível ver filmes que por diferentes razões não chegavam aos cinemas…”.
Esse é Hastings. Pensa moderno, aberto, livre, reconhece que tudo é novo e assim tem que ser considerado até converter-se em um business consistente.
Seu livro, já no título, mais que define o que pensa, é, e faz, A Regra é não ter Regras… Ou, no original, No Rules Rules… E a essência, a razão de ser, o propósito da Netflix é definitivo, matador, sensacional:
“Nosso negócio é contar boas histórias”. E é!