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Blog do Madia

Diário de um Consultor de Empresas – 20/10/2023

Um novo, poderoso e desafiador fabricante no território dos grandes aviões. BOEING e AIRBUS de olho.
Negócio

Embraer, vendendo esperanças e temendo pelo pior…

O desastre que se abateu sobre a Embraer é, simplesmente, monumental. Tudo deu errado nos últimos cinco anos. Multiplicado por dois. Consciente que sozinha não poderia enfrentar a dobradinha Airbus + Bombardier no território dos aviões médios, e onde era uma das empresas líderes, conformou-se em ser comprada – essa unidade específica – pelo único comprador possível: a Boeing. Pior do que diz o ditado, “quem não tem cão caça com gato, só tinha gato e um único e assim foi”. Jogou-se nos braços da Boeing. E aí, e em paralelo, a Boeing mergulhava na maior crise de sua história. O lamentável e insustentável – no ar – Boeing 737 MAX, a maior aposta da história da empresa, o maior sucesso de encomendas e vendas antes do primeiro voo, e pânico global com os primeiros voos onde dois aviões cheirando a tinta despencaram por erro bisonho de projeto matando todos a bordo. E aí, a compradora da Embraer, que já não vinha bem das pernas mergulhou de cabeça no abismo. E foi então que, para completar a tragédia, a coronacrise que tirou durante muitas semanas todos os aviões do ar, e até hoje, quase 18 meses depois, a maioria continua estacionada. Esse foi o trágico e único noivo encontrado pela Embraer. E não tinha outra alternativa. E deu tudo, absolutamente, tudo errado. Todos os demônios se somaram para conspirar contra a empresa brasileira de aviação, fundada no dia 19 de agosto de 1969, pelo empreendedor e engenheiro aeronáutico brasileiro, Ozires Silva. E agora? Com a pandemia, o cancelamento do negócio com a Boeing, um processo ferrado contra a Boeing numa câmara de arbitragem nos Estados Unidos em que busca ressarcimento geral mais multa pelas centenas de milhões de dólares investidos num negócio cancelado, e a necessidade de retomar e manter funcionando o que vendeu, o negócio da aviação comercial? Em maio do ano passado, a Embraer foi atrás de um profissional experiente e consagrado, para comandar o processo de transição de uma empresa depois de décadas numa determinada direção, para uma empresa sem seu braço principal, sócia minoritária numa nova empresa, organizar o que restou, e construir uma nova estratégia. O escolhido, depois da análise de uma dezena de nomes, foi Francisco Gomes Neto, engenheiro elétrico com mestrado em administração pela FGV, e praticamente uma vida toda dedicada a uma única empresa, a Mann Hummel. De alguma forma, e ao aceitar a proposta, tinha ciência do desafio que o aguardava pela frente. E que era exclusivamente comandar o processo de reinvenção e reposicionamento de uma empresa, da Embraer. Sem a área da aviação comercial. E poucos meses depois de tomar posse como CEO, no dia 22 de abril do ano passado, duas gigantescas porradas mudaram por completo o briefing que recebeu e o desafio que aceitou. A desistência da Boeing, e, a pandemia. Isso posto, mais que natural que neste momento, ele, Francisco, e seus companheiros de Embraer revelem-se absolutamente perdidos. E como não tem cabimento um CEO de uma empresa vir a público e dizer que não sabe exatamente ainda por onde começar a retomada, concedeu entrevistas onde, sem confessar, revela a indecisão que hoje toma conta da empresa brasileira de aviação, a Embraer. Vamos conferir, de forma sintética, o que Francisco Gomes Neto, CEO da Embraer tem dito em sucessivas entrevistas. Sobre se teria sido um erro o negócio com a Boeing – “Não, definitivamente não. Naquele momento era um movimento estratégico importante para as duas empresas. Infelizmente, não deu certo. Assim, vamos continuar reintegrando a área de aviação comercial”. Ou seja, por uma questão de educação, e para não prejudicar os pleitos da Embraer no processo que move contra a Boeing, Gomes Neto preferiu não apontar o dedo. Sobre as perdas da Embraer com o cancelamento unilateral pela Boeing do negócio – “Sim, o processo de separação foi e continua complicado e envolve custos enormes”. Sobre uma empresa, neste momento, com dois sistemas diferentes de gestão – Gomes Neto confirma, e complementa, “Estamos fazendo a reintegração da área comercial de forma inteligente. Onde faz sentido voltar a como éramos assim estamos procedendo. Onde não faz sentido mantemos separado, mas procurando simplificar e aperfeiçoar processos… Não temos plano de vender a aviação comercial, novamente…”. Sobre o futuro – “Vamos focar na aviação comercial e na defesa, mas também diversificar…”. Ou seja, amigos, jamais, nem no pior dos pesadelos, Francisco Gomes Neto imaginou-se pilotando uma empresa que, dois anos atrás, quando foi contratado, só tinha razões de sucessos e esperanças pela frente, com o campo totalmente aberto para um renascimento e reposicionamento gloriosos, e agora, tudo o que faz, é correr atrás, e tentar controlar – impossível apagar – incêndios de dimensões imprevisíveis. Coisas da vida. Acidentes de percurso. Como nos ensinou José Ortega Y Gasset, ensaísta, jornalista, fundador da Escola de Madri, e o que acontece agora com Gomes Neto, “eu sou eu mais as minhas circunstâncias”. Quando aceitou o desafio, eram outras as circunstâncias, e tinha certeza que melhorariam e faria uma gestão histórica no comando da Embraer acelerando em direção ao futuro. Jamais, correndo atrás na tentativa improvável de apagar dois incêndios de dimensões espetaculares. Assim, e tudo o que se consegue depreender das entrevistas de Gomes Neto nos últimos meses é uma frase que repete em todas. Uma espécie de “wishiful thinking” “a Embraer será maior do que foi no passado…”. Lembrando muito uma frase que o ministro Paulo Guedes andou dizendo e agora decidiu silenciar, lembram, “O Brasil vai surpreender o mundo…”. Tomara que as duas frases de efeito se tornem realidade, mas, as possibilidades, são muito próximas de zero.
Negócio

Cenas da pandemia, ou, brigando por migalhas

Na falta de passageiros, com aviões parados, e considerando que carga não usa máscara e nem precisa de distanciamento e álcool em gel, as empresas aéreas brasileiras tentaram ganhar algum tempo, enquanto não conseguiam vislumbrar nenhuma outra alternativa. E partiram para a dolorosa decisão de converter aviões magnificamente preparados para o transporte de passageiros, em… Cargueiros. Isso mesmo, aviões de carga! As três – Latam, Gol, Azul – recorreram a esse expediente não como única e derradeira alternativa para melhorar os ganhos, mas e apenas para… Tentar atenuar os prejuízos. A Latam encostou alguns de seus Airbus A321 com capacidade para 220 passageiros, e apenas duas toneladas de carga, e colocou para descansar, e, simultaneamente, reabilitou Boeings 767 com capacidade para até 238 passageiros, mais 20 toneladas de mercadoria. E ainda, transformou um avião maior, um Boeing 777 com capacidade para 379 passageiros, retirando todas as poltronas… Convertendo uma espécie de “joia”, exagerando, claro, numa carroça, ou, “galinheiro”. O mesmo procedimento adotou a Azul. De seus 40 A320, que utilizava para o transporte de passageiros, 12 viraram cargueiros… E a Gol, sem muita margem de manobra pela proibição de retomar os voos como os 737 MAX, procurou oferecer serviços complementares no transporte de animais, e na guarda de mercadorias. Mais ou menos assim. Ou, nem no mais terrível dos pesadelos poderiam imaginar que passariam por essa dor, por esse constrangimento. Sentaram-se numa mesa, choraram todas as lágrimas possíveis, e no momento seguinte entregaram além dos anéis, os dedos das mãos, os dos pés, um dos braços, uma orelha, e a ponta do nariz. Na tentativa lancinante de manterem o negócio vivo. Sem nenhuma perspectiva de verdade, de alguma recuperação consistente, pelos próximos três anos. Em tempos de pandemia, nem mesmo se sorri. Chora-se e lamenta-se. Com maior ou menor intensidade. Nunca, como hoje, expressões desgastadas e típicas de momentos de gravíssimas crises e desespero, tomam conta de toda a cena e são repetidas à exaustão como hoje… Expressões, como: “Derrota é uma bebida amarga apenas para os que se conformam em tomá-la”; Ou, “Mais vale acender uma vela do que amaldiçoar a escuridão”; Ou, “A coragem e a fé removem montanhas”; Ou, “Coragem é enfrentar, e não permanecer parado fingindo resistência quando o que se tem, mesmo, é medo”; Ou, “Prefiro fabricar e vender lenços a permanecer parado chorando”; Ou, ainda, “Deus ajuda quem cedo madruga”; Ou, “É no momento mais escuro da noite que o sol prepara-se para nascer…”. Cada um dos players das diferentes cadeias de valor e especializações escolheu a sua preferida. Era, ou foi tudo o que tínhamos para os primeiros meses de pandemia. O caos era de tal ordem que ninguém sabia exatamente por onde começar. Muitos acreditaram ter aberto a porta de saída, mas… Estavam mesmo mergulhando mais fundo ainda.