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Som Livre, quando o som chega ao fim…

Talvez nunca as pessoas tenham ouvido mais músicas do que nesses meses de pandemia. Mas, aquela que se converteu na maior lançadora de sucessos do país, durante quase cinco décadas, chega ao fim como um negócio milionário e próspero. Agora, e nunca mais, próspero, como foi até dias atrás. No início a Globo recorria às gravadoras tradicionais para compor a trilha sonora de suas novelas. Isso durou poucos anos. Descobriu que tinha uma mina de ouro nas mãos. Que eram as novelas que pautavam o gosto musical da maioria dos brasileiros, e que não fazia mais sentido continuar recorrendo ao casting e as demais gravadoras. E assim nasceu, um dia, no ano de 1969, a Som Livre. Na página 259 do livro dele, Boni, o homem que mudou a história do Brasil, que reeditou quem somos nós, brasileiros, está escrito, “No dia 1° de setembro de 1971, eu e minha família, o Tarcísio e a Glória, o Ibrahim Sued e o Luiz Borgerth ‒ autor do livro do Boni ‒ e alguns amigos, fomos participar da procissão marítima do Senhor dos Navegantes, em Salvador, e a convite do Alberto Maluf e do David Raw da TV Aratu”. Eram mais de mil barcos no mar e o dia estava lindo e ensolarado. Os barcos iam navegando e todos cantavam hinos religiosos, como o Queremos Deus. Quando perceberam que o Tarcísio Meira estava em uma das embarcações, as pessoas do barco ao lado começaram a entoar a música da abertura de Irmãos Coragem e a coisa foi passando de barco a barco. De repente, mais de três mil pessoas cantavam, no mar de Salvador, a uma só voz, “Irmão, é preciso coragem…”. Naquele momento, talvez nem mesmo o Boni tenha realizado a dimensão de sua obra. As novelas da Globo, além de pautarem as cores, as formas, o design, as roupas, o gosto dos brasileiros, passaram a orientar nossas preferências musicais. E assim, a Som Livre revelou-se uma mina de ouro monumental. 50 anos depois a realidade é completamente diferente e outra. O ouro música continua existindo e tão forte, importante e próspero como antes, só que agora as fontes e os caminhos são outros. Existe uma nova cadeia de valor… Em sua reinvenção o Grupo Globo concluiu que a Som Livre, ainda que dê resultados, não tem mais nada a ver com o novo caminho escolhido. E assim, e meses atrás, fechou um acordo para vender a Som Livre para Sony Music. Ao menos num primeiro momento a Sony não pretende incorporar a Som Livre. Vai manter como um centro autônomo de produção, seguindo sob o comando do CEO Marcelo Soares. No comunicado a imprensa, Jorge Nóbrega, CEO da Globo, diz, “Estamos muito felizes em ter encontrado na Sony uma nova casa para a Som Livre, um negócio que foi construído dentro da Globo e que sempre foi muito querido de todos nós. A Som Livre produziu e lançou músicas com a Globo por mais de meio século e foi um importante capítulo da história da Globo. Nós queríamos assegurar que esse acordo preservasse tudo o que a Som Livre representa para os brasileiros…”. Amigos, nada é para sempre. Irmãos, é preciso coragem; sempre!
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“Quem planta tâmaras não colhe tâmaras”

Esse é um provérbio grego e que traduz uma verdade definitiva de muitas situações em nossas vidas. E é preciso ter grandeza de espírito para aceitar e se conformar com essa verdade. Plantar sempre, o que jamais colheremos. Mas nossos descendentes se fartarão. De certa forma, e mesmo num curtíssimo período, isso é o que vem acontecendo com a mais importante plataforma de comunicação do Brasil ‒ ainda, a Globo. Desde meado da década passada, a que acabou de terminar, a Globo deu início a um processo de reinvenção. E, de certa forma, no ano de 2018 terminou a primeira etapa, com a definição dos grandes traços dessa reinvenção, e que foi apresentada ao público como “uma só Globo”. Parcela expressiva das pessoas que participaram da definição desse novo posicionamento, e do repensar a Globo, já não fazem parte mais do capital humano da Globo. Foram dispensadas. Mais ou menos como no provérbio grego, “quem planta tâmaras não colhe tâmaras”. Segundo consta, uma tamareira só começa a produzir frutos depois de 100 anos, e assim que planta não vive nem para colher e muito menos para comer. Mesmo num prazo curtíssimo é o que acabou acontecendo com parcela expressiva dos profissionais que participaram do planejamento e início da execução da nova Globo, ou da uma só Globo. Semanas atrás, uma grande parte do processo foi declarada encerrada, e o fecho de tudo uma Nova Marca. Segundo as pessoas que hoje comandam o Grupo, e os irmãos Marinho, acionistas, “uma marca mais leve, acessível, próxima”. Essa nova marca, segundo o “release” distribuído pela Globo, tem seis valores básicos: brasilidade, proximidade, diversidade, comunidade, liberdade, e, criatividade. Um festival de generalidades que, de verdade, jamais traduzirão o verdadeiro sentido e entendimento do que é valor. Ou, de como se define e constrói os valores de uma empresa. Enfim, amigos, aconteceu. Como tudo e todos são mortais, o grande ciclo de ouro da então Rede Globo de Televisão, começou a encerrar-se no início da década de 2020, e tem seu ponto final colocado agora, década de 2021, 10 anos depois. A Globo, na tentativa da sobrevivência, deu um mega reset. Mas, e não necessariamente, todos os resets dão certo. Talvez, nem mesmo, façam sentido… Às vezes, com relativa frequência, alguns resets antecipam o respiro final… Vamos continuar acompanhando e procurando sempre tirar importantes e decisivas lições e aprendizados para nossos negócios, e até mesmo para nossas vidas. Nenhuma outra instituição impactou e mudou tanto, a história de nosso país, para melhor, como a Rede Globo de Televisão. Muito especialmente quando a responsabilidade por seu conteúdo levava a assinatura do José Bonifácio de Oliveira Sobrinho. O Boni. Desde que saiu, a Globo foi deixando sua alma pelo caminho.