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Negócio

Quem tudo quer tudo perde

Ditado dos mais antigos, repetidos à exaustão por nossas mães avós diante da voracidade e gulodice total de nós, enquanto crianças, acabou virando título, em português, de uma deliciosa comédia de Brian de Palma, no original, Wise Guys (Garotos Espertos). Com Danny DeVito e Joe Piscopo. Mais ou menos, e quase sempre, a razão de ser de debacles monumentais. Fundada no ano de 1914, no dia 13 de dezembro, pelo imigrante português Joaquim Inácio da Fonseca Saraiva, de Trás-os-Montes, 94 anos depois, 2008, detinha mais de 20% do total das vendas do país. E foi nesse exato momento, empolgados com o sucesso, que os sucessores de Joaquim Inácio decidiram aceitar as ofertas mirabolantes dos shopping centers, e converterem a vitoriosa rede de livrarias, em megastores. E que além de livros, e como o espaço era descomunal, passaram a vender os condenados a morte CDs, DVDs, e na onda do Jáque – já que vendo isso vendo aquilo – foi convertendo-se também em revenda de eletro-eletrônicos, computadores, celulares, smartphones, e, e, e, começou a fraquejar, bambear as pernas e aproximar-se do abismo. Como a compulsão e ganância eram incontroláveis não se deu conta e mergulhou no abismo. Corta para fevereiro 2022. 4 anos depois de ter pedido recuperação judicial, incapaz de suportar e honrar uma dívida de R$675 milhões. Numa luta desesperada e esperanças próximas de zero, tenta sobreviver, de alguma maneira, seja essa maneira a que for. Em 2022, o que sobrou da Saraiva dos anos de glória, meados da década passada, um prejuízo de R$15,7 milhões. Das 113 lojas de seu melhor momento restavam 37. Devolveu e ou fechou todas as demais. E ainda a pandemia, e vendas caindo para quase a metade do Natal de 2020. Dentre suas maiores dívidas, a maior com o Banco do Brasil, mais de R$120 milhões. Dívidas elevadas com seus tradicionais e queridos editores de livros que forneciam o produto principal da verdadeira e original Saraiva: o Livro. Sem contar os aluguéis em shoppings que não paga há um bom tempo. Assim, e ano após ano, mais prejuízos, menos compromissos honrados, menos lojas, a caminho, de mãos dadas com a Cultura, ao mesmo destino reservado a Laselva, que teve sua falência decretada no ano de 2013. Lembram, nossas mães e avós, “quem tudo quer tudo perde”… mais ou menos por aí a triste e constrangedora história da Saraiva, e de herdeiros que jamais entenderam as verdadeiras razões e motivos do emigrante português Joaquim Inácio da Fonseca Saraiva, de Trás-os-Montes, há mais de 100 anos.