Cigarros, 50 anos depois
Nos anos 1970, quando a Philip Morris decidiu invadir o mercado brasileiro de cigarros, ainda não se tinha total consciência da devastação que o fumo faz na saúde das pessoas, e não existiam os cigarros contrabandeados das fábricas do Paraguai. O contrabando era exclusivamente das marcas internacionais, mas não existiam as marcas “made in Paraguai”.
Naquele momento dos 100% do mercado, 70% eram da Souza Cruz (British American Tobacco), 15% Reynolds, e os restantes 15%, dividido entre a Sudan e duas dúzias de pequenas fábricas.
A Philip Morris, que batia e humilhava a British American Tobacco em todo o mundo, pensou, vou para o Brasil e em pouco tempo assumo a liderança.
E assim fez, chegou, comprou a Reynolds, lançou suas grandes marcas como Marlboro, comprou outras fábricas menores, e, se, conseguisse preservar a participação das empresas que comprou e nada mais acontecesse, hoje o tóxico mercado de cigarros em nosso país seria 70% Souza Cruz, e 30% Philip Morris.
Mas, a realidade em 2019, fechados os números, é totalmente diferente.
Primeiro, uma queda expressiva no número de fumantes pela consciência do veneno que é o cigarro. Mas, e mesmo assim, dentre os mortos pelo coronavírus, parcela expressiva é constituída de fumantes ou ex-fumantes. Conclusão, um mercado significativamente menor.
Na briga específica entre Souza Cruz e Philip Morris, a Souza Cruz saiu-se muito melhor e se o mercado restringisse-se apenas as duas, a Souza Cruz teria o equivalente a 85%, e a Philip Morris 15%, ou seja, a arrogante Philip Morris teria perdido metade do que comprou. Mas não foi nesse sentido que o mercado evoluiu.
No meio do caminho brotaram do nada as fábricas no Paraguai, que nasceram para abastecer o mercado brasileiro, tendo como absurda vantagem competitiva pagarem impostos pífios num dos produtos mais tributados e taxados no Brasil. E tendo como donos e criminosos, alguns dos principais políticos daquele país onde passaram uma temporada, Ronaldinho e seu irmão Assis.
Conclusão, fotografia do ano de 2019. 57% de todo o mercado de cigarros no Brasil pertencem hoje às indústrias paraguaias. Ao invés das grandes marcas dos velhos tempos que lideravam o mercado como Hollywood, Minister, Continental, que foram construídas vendendo mentiras e mais mentiras, hoje a marca número 1 é a paraguaia Eight, com 16% de participação de mercado. E na sequência vem a Gift com 10%.
No ritmo atual, as marcas paraguaias deterão brevemente 60% do mercado, cabendo a Souza Cruz e Philip Morris, disputar os 40% que sobraram. Em tempo, e repetindo a grande vantagem competitiva das fábricas paraguaias. Os cigarros fabricados no Brasil pagam impostos correspondentes a 70% a 90% do preço. Os fabricados no Paraguai, 18%. Será que em algum momento o governo brasileiro exercerá uma pressão maior sobre o governo do Paraguai…
Ou, é assim mesmo?