Eu sou do tempo da uva com semente…
É muito comum na conversa das pessoas alguém sacar um “eu sou do tempo”.
Do tempo do bonde, dos verdureiros, do cinema, do vinil, do papel carbono, do bambolê, da TV preto e branco e de botão do videocassete, do retroprojetor…
Ao bonde, verdureiros, cinema, vinil, papel carbono, bambolê, nossos eternos, reconhecidos e emocionados agradecimentos pelos inestimáveis serviços prestados, mas, diante de uma alternativa nova e que presta os mesmos e mais serviços, de uma forma melhor, mudamos no dia seguinte. Às vezes, nós, os “desalmados”, no mesmo dia. No ato.
Agora uma nova expressão começa a ganhar corpo nas conversas. Eu sou do tempo da uva com caroço. Todos nós, aqui da Madia, somos! Era um porre, grosseiro, deselegante. Enfiava-se a uva na boca e com a língua começava-se a caça aos caroços. Depois de encontrados, levávamos com a ponta da língua para o mais próximo da boca. Abríamos a boca, e com as mãos retirávamos os caroços. E íamos colocando em algum lugar. Os menos civilizados, jogavam no chão. Os mais menos civilizados, ainda, cuspiam e não se davam nem ao trabalho de fazer os caroços passarem pelos dedos.
Um dia a Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – talvez uma das poucas instituições públicas que vem oferecendo contribuições inestimáveis para o progresso e desenvolvimento do país – no ano de 2012, deu início a um programa de desenvolvimento genético em busca da Uva sem Semente.
A BRS Vitória. Abençoado nome que busca o que todos buscamos em nossas vidas. Uva preta, com baixo custo de cultivo, tolerante à chuva, e, sem sementes. Em uma ou duas das primeiras safras constatou-se a sua espetacular adaptação a diferentes tipos de terra e de clima. Ótima no Rio Grande do Sul, no clima da Serra Gaúcha; ótima no semiárido do nordeste.
Em pouco tempo passou a ser a espécie de uva dominante em Petrolina, Lagoa Santa, Juazeiro, Casa Nova, Caruaru. Nos anos seguintes a pesquisa procurou dominar o ciclo da Uva sem Semente. E conseguiu!
E assim os viticultores do nordeste foram substituindo as espécies Crimson e Thompson pela Vitória. Vitória! Hoje definem quando a produção começa e quando termina. Dominaram o ciclo produtivo, e o planejam em função da demanda. O oposto do que acontecia secularmente, lembram, tempo de uva, tempo de caqui, tempo de pitanga…
E se as uvas com sementes eram decadentes e não estavam com nada, perguntadas, as crianças disseram que as uvas com semente eram “…eeecccaaaa”… Já, as sem sementes, tudo de bom, deliciosas. Mas, e mesmo antes que as crianças se manifestassem seus pais já tinham providenciado a troca.
Ainda que custando, e por enquanto, o dobro para o consumidor final, a sem semente vende tudo e a com semente encalha. Salta para o final de 2018. CEAGESP. Na parede a fotografia de 2013. 8 milhares de toneladas de uvas produzidas no Vale do São Francisco, contra 7,4 milhares de toneladas importadas muito especialmente do Chile.
E a fotografia tirada 5 anos depois, em dezembro de 2018. 12 milhares de toneladas do Vale do São Francisco, e 3,6 milhares de toneladas do Chile. Tendendo para zero, em 2022.
Agora, a uva brasileira prepara-se para invadir o mundo. E quem sabe, muito brevemente, o Brasil se converta num dos principais e melhores produtores de vinho do mundo. Não duvide. Mais que na hora do Brasil descobrir sua maior dentre todas as riquezas.
Como temos repetido mais que a exaustão com vocês. A Terra. O que temos embaixo da terra. Espetacular tesouro mineral. O que temos em cima da terra, onde se plantando tudo dá, e o que temos na frente da terra, uma natureza exuberante.
Esperamos, todos, viver mais alguns anos para dizer, EU SOU DO TEMPO DA UVA COM SEMENTE. Nós e nossos queridos amigos, filhos, netos. Netos que hoje são quase moços e que nos faziam partir a uva ao meio para retirar o caroço… Se nós não atrapalharmos, se nós ajudarmos, o Brasil tem tudo para dar certo…
Contamos com todos vocês para aprimorarmos e revolucionarmos tudo, como fizemos com a agora UVA SEM SEMENTE…