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Blog do Madia

Diário de um Consultor de Empresas – 04/09/2024

O prevalecimento da moeda TEMPO e a invenção das DARK KITCHENS.
Negócio

Dark kitchens, regular ou não regular

O novo elo da cadeia de serviços de alimentação no Brasil, e em muitos outros países, chama-se dark kitchens. Cozinhas fechadas ao público, e pontas de lança estratégicas para a produção e entrega eficaz de comida pronta. Nas primeiras movimentações, trabalhando exclusivamente para uma marca, muito especialmente, empresas do território do fast-food. E ainda pegando embalo, ou, no vácuo da pandemia, onde o consumo de comida pronta nos lares e empresas exponenciou. Assim, e dentre as novidades deste início de década, e se existe alguma certeza, é que as dark kitchens chegaram pra valer e ficar. E como são fechadas não sendo possível o acesso direto pelo público, não estão sensíveis as normas convencionais de comércio e restaurantes. Diante das primeiras reclamações dos vizinhos dada a movimentação de motos e bikeboys de entregas, diante do barulho, lixo, sujeira e movimentação, começam as primeiras discussões se, deveriam ou não ser regulamentadas. E é o que vai acabar acontecendo. Não necessariamente agora, mas lá pela metade da década, certamente, teremos as primeiras regulações. De qualquer maneira, o que é importante neste comentário é que as dark kitchens mudam para valer e para sempre o negócio da alimentação. Um ponto fechado, de pequeno e médio porte, exclusivamente para a preparação, e que pode abrigar uma ou mais marcas de restaurantes e fast-foods. Uma nova personagem presente na paisagem urbana de muitas cidades brasileiras, através da movimentação, barulho, cheiro e fumaça que, exalam e transpiram… Não é que vieram e podem ficar; já são. Fazem parte da nova realidade do negócio de alimentação…
Negócio

Demorou, mas chegou o american way of eat no Brasil

Ou seja, e se nada for feito, muito brevemente nos defrontaremos com uma epidemia de obesidade em nosso país. Os últimos dados disponíveis do IBGE ainda são de antes da Covid-19, ou seja, e na medida em que as pessoas passaram a ficar mais tempo confinadas, e a comerem mais “bobagens”, pode se calcular, com tranquilidade, um aumento entre 2% a 5% sobre os números divulgados. Mas, vamos aos dados da última Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE. Aquela velha e boa e tradicional comidinha brasileira vai ficando pelo caminho. Arroz, feijão, bife, salada… E frutas na sobremesa… Nos últimos 10 anos, a presença diária do arroz na alimentação básica do brasileiro caiu de 82% para 72%. E a do feijão, caiu de 72% para 59%. Semelhante comportamento aconteceu em relação a carne bovina – caiu de 43% para 34% – assim como o consumo de frutas – de 45% para 37%. Se tudo parasse por aí até que nada tão grave. Mas, não pararam, e no lugar, todas as vagas e um pouco mais foram ocupadas por, dentre outros, pizzas e sanduíches. Dos 10% que comiam regularmente esse tipo de produto, ou tinham esse tipo de alimentação, o salto foi para 17%. E agora, então, e com a pandemia, e mais os aplicativos, mais as dark kitchens, mais a angústia e medo, coloca sanduíche e pizza nisso. Mesmo e ainda não sendo uma fotografia perfeita, no mínimo sinaliza o que provavelmente aconteceu. Os dados disponíveis revelam a quantidade de brasileiros obesos saltou de 12,2% para 26,8% – em números absolutos são hoje 41 milhões de obesos, e 96 milhões com excesso de peso. Objetivamente, só lá por 2025 conseguiremos ter uma noção precisa de quantos quilos a mais, e em média, nós, brasileiros, agregamos a nosso peso em decorrência de uma trágica pandemia. Que deixou sequelas em todos os sentidos e dimensões, muito especialmente no tocante ao quesito obesidade.
Negócio

Tempos de bunkers e casamatas

Um dia, um dos maiores visionários da cidade de São Paulo, Alfredo Mathias, o mais velho de seis irmãos, nascido na cidade de São Paulo no ano de 1906, formado em engenharia civil pela Poli, olhava para os mesmos lugares que outras pessoas olhavam. E onde as outras pessoas não viam absolutamente nada, ele, iluminado, via oportunidades. E assim fez, muito antes de todos os demais, o primeiro shopping center, o primeiro centro empresarial, o primeiro condomínio clube e errou em todos. Quebrou. Fez tudo certo, brilhantemente certo, só que 20 anos antes do tempo. Passados os anos, o Shopping Iguatemi, o Centro Empresarial, o Portal do Morumbi tornaram-se referências obrigatórias da cidade de São Paulo. Todos assinados pela genialidade de Alfredo Mathias. E as cidades, e São Paulo, no correr dos anos partiram em busca de soluções para as novas realidades. Cidades cada vez maiores, distâncias aumentando, sistemas de transportes deficientes, e quando tudo parecia insuportável e impossível de encontrar-se qualquer solução que contemplasse minimamente qualidade de vida, veio o abençoado tsunami tecnológico. E, com o nascimento da Digisfera, das plataformas digitais, a tecnologia forneceu os atalhos desejados para uma condição de vida melhor. E assim, e depois da virada do milênio, a nova cidade foi se revelando. Muitas das inovações de Alfredo Mathias mereceram as devidas releituras, mas alguns traços permanecem e agora voltam a ganhar vida. Por exemplo, no condomínio clube Portal do Morumbi, muitas das necessidades de seus moradores são resolvidas sem que as pessoas precisem ir para a rua. Corta para 2020, pandemia, delivery, dark kitchens, pessoas trancadas em suas casas, e o que era exceção, coisas de malucos e gênios como Alfredo Mathias, vão se convertendo numa nova realidade. E dentre essas novidades, e agora, uma empresa da cidade de Curitiba, a Market4u, decidiu invadir São Paulo, no auge da pandemia, agosto de 2020. Em muitos condomínios de porte médio e grande já existiam as máquinas de venda de produtos. A Market4u é um passo adiante nessa tendência, e o resgate das ideias de mais de 60 anos de Alfredo Mathias. Garantir a autossuficiência dos moradores dos médios e grandes condomínios numa série de itens de compra, consumo e uso. Seis meses depois, a empresa já se revelava presente em 264 condomínios e se instalando em mais 114. Em matéria da Vejinha, Eduardo Cordova, 32 anos, fundador da empresa declarou, “Já mapeamos 55 mil prédios residenciais que têm potencial para receber nossos serviços. Só na cidade de São Paulo estimamos mais de 200 mil locais…”. Tudo baseado na confiança. Mercadorias ficam expostas, os condôminos se abastecem e voltam para seus apartamentos bunkers, e de lá não saem. Câmeras exercem uma espécie de fiscalização sobre o comportamento dos clientes moradores, e os pagamentos são feitos por um aplicativo. Ou, pelo PIX. Agora começaram a instalar pequenas adegas com vinhos. E, na matéria, relatos de acidentes de percurso. “Outro dia uma senhora pegou trinta garrafas de vinho e não pagou. Nosso canal de cobrança localizou quem fez os últimos acessos e confirmou tudo pelas câmeras. Entramos em contato, ela alegou ter se enganado, prometeu pagar e pediu parcelamento…”. Trouxemos essa história para compartilhar com vocês claro, e como sempre, em busca de reflexões e aprendizados. O que é que vai acontecer com a Market4u, depois da vacinação e fim da pandemia? Nada! Vai fechar, uma bobagem, ou um delírio tão grande como as bicicletas, patinetes que tomaram conta das cidades como alternativa de transporte. Quando o confinamento terminar, as portas voltarem a se abrir, tudo o que as pessoas mais desejarão é ir para a rua, fazer compras em lojas, armazéns, supermercados, comer em bares e restaurantes e tudo o mais. Jamais, resignarem-se com o confinamento e viverem os dias que lhes restam fazendo tudo em suas casamatas, bunkers, trincheiras, incluindo compras. Com exceção dos grandes condomínios residenciais, onde, e dependendo das circunstâncias, distâncias, carências e necessidades imediatas, continuará se recorrendo aos pequenos estabelecimentos comerciais internos. Se existe alguma componente que nenhum de nós tem o direito de ignorar, é qual é nossa natureza, como somos o que nos faz feliz. E resignar-se em permanecer trancados em nossas casas, mais que desumano, é tudo o que não queremos. É isso, amigos. Apenas uma reflexão hoje, e da maior importância. Jamais acreditar que pequenas e circunstanciais oportunidades acabarão por se converter em novos e definitivos comportamentos. Enquanto o ser humano continuar ser humano, sua caminhada pela história do mundo seguirá no mesmo ritmo e direção. Em busca de mais e mais vida, de mais e mais oxigênio, e de mais e mais contato com seus semelhantes. Qualquer negócio que desconsidere esse traço cultural definitivo nasce morto. Negócio de gaiola nem com pássaros, nem com pessoas. Lembram, Cecília Meireles, “Quem tem asas voa…”, ou, Mário Quintana, “Todos esses que aí estão, atravancando meu caminho, eles passarão, eu passarinho…!