Muitas pessoas, equivocadamente, acreditando que daqui para frente, como cantavam Roberto e Erasmo, tudo vai ser diferente, e que o trabalho a distância prevalecerá.
Esqueçam. Temos certeza que vocês não caíram nessa fake news tosca. Seguindo na música dos Carlos, Roberto e Erasmo, Daqui para Frente, e passado esse pesadelo da pandemia, tudo será diferente, Vamos mesmo é reaprender a ser gente.
Trabalhar fisicamente próximos, juntos, decodificando olhares, gestos, sentimentos, pausas, expressões, não apenas e exclusivamente através de uma telinha gelada que não comunica absolutamente nada. E, vez por outra, cai… Que revela, mal e parcamente, como somos pescoço pra cima. E ainda, de vez em quando alguém grita, “Mané, você desligou o botão do som… Liga aí…”. Pessoas inteiras e íntegras continuam tendo cabeça, tronco e membros. Coração e mente. Olhos e mãos. Corpo. Vida. Ao vivo, Live. Presencial!
Por razões que só a cegueira decorrente do vírus explica, muitos passaram a imaginar que as empresas são dirigidas por profissionais do capital humano incompetentes e estúpidos. Que só insistiam e teimavam no trabalho presencial por burrice, sadismo ou masoquismo.
Não, insistiam e assim continuarão porque não existe nenhuma outra maneira de se trabalhar tão produtiva, inovadora, e que alcance resultados excepcionais quanto o trabalho presencial.
Fogo é fricção, atrito. Inovação luz acende no conflito de posições e ideias. Contrapontos, discordâncias, presenciais, sempre! Trabalho em equipe, coletivo. Juntos! Fisicamente juntos.
A vida é plural. Pessoas têm propósito, empresas e equipes, missões. Propósito se cultiva e pesquisa a distância. Pode ser. Missão cumpre-se, presencialmente, coletivamente, de mãos dadas, gritos de guerra e sob intensa emoção. Enganam-se os que acreditam que a distância é bom e melhor.
Pergunte pras pessoas que vêm trabalhando assim nos últimos anos, o que acham, e o quão tristes e ignorados se sentem. Você já conversou com um faroleiro, isso mesmo, aqueles solitários que passam a vida morando num farol e dentro do mar… Ou com o porteiro da noite de seu prédio, guarda-noturno… Tudo o que era possível de ser feito a distância, e diante da impossibilidade física ou econômica de se fazer pessoalmente já vem funcionando dessa maneira há anos e décadas.
A pandemia não muda a essência do que quer que seja. Nem do trabalho, nem das pessoas, nem da vida. Cria dificuldades e constrangimentos, impõe restrições, mas, em partindo, todos correndo para o abraço. Concordamos com Erick Jacquin. O mesmo que ele manifesta em relação a restaurantes assino embaixo em relação às empresas.
Com a reabertura dos restaurantes, o tal do delivery de luxo, tende a voltar, em no máximo um mês, ao que sempre foi e era antes da pandemia. A zero! Não existe restaurante a distância, não existe delivery para restaurante. Bobagem. Esqueçam. Assim como não existe educação a distância para crianças.
O sentimento geral dos chefes de cozinha é que tiveram que fechar os olhos e adotar as marmitas por uma questão de desespero e o sentimento de ilusão de uma precária sobrevivência. Quantos, durante as madrugadas, consideraram o suicídio a continuar fazendo um trabalho de merda transformando suas competências e expertises em patéticas gororobas.
Perguntaram a um dos mais consagrados chefes de cozinha do Brasil, Erick Jacquin, se pretende manter o delivery, depois da pandemia. Quase voou na jugular do jornalista. Urrou, “Não! Chega! Isola! É o momento de resgatar o restaurante, um negócio verdadeiro e único. Tive prejuízos durante todo esse período, e o delivery, cá entre nós, é a maior dor de cabeça. Quando a embalagem chega revirada ninguém liga para o aplicativo de entregas pra reclamar. Ligam para o Jacquin… Era só o que me faltava…”.
Além de assassinar verdadeiras obras de arte, delicias, prazeres, o tal do delivery é qualquer outra coisa, menos, restaurante. Isso posto, acordem. O mundo levou séculos para criar o descanso do domingo. Outros 50 anos para muitos negócios, muito especialmente com o prevalecimento da sociedade de serviços, a tal da semana inglesa, semana de cinco dias.
É isso. Quem sabe alguns negócios, depois de anos ou décadas, possam considerar algumas semanas de quatro dias por ano. Quem sabe a última do mês. Não existe trabalho a distância. Existem atividades que só podem ser realizadas a distância, e a tecnologia facilitou e em muito todas essas. Mas essas pessoas que não têm outra alternativa são, no mínimo, tristes. Parcela expressiva, depressivas. Universalizar trabalho a distância é o mesmo que dar fim a todos os restaurantes e institucionalizar como forma única de alimentação o gororobas delivery.
Nós, consultores da Madia, pedimos demissão desse tipo de vida, e vamos procurar outros humanos que também tenham a estranha mania de gostar de pessoas. Enquanto é tempo, e a sandice não tomou conta do mundo. Todos correndo para o abraço, amanhã. Ou você acredita ser possível o abraço a distância?