Na edição que circulou no início do ano passado, quando ninguém ainda sabia sobre uma tal pandemia, edição de número 1201, datada de 22 de janeiro de 2020, processou-se o ritual de passagem da Família Civita, para o BTG Pactual. Fim de um ciclo de 52 anos de uma publicação, a revista Exame, que marcou, integrou, influenciou, formou, e contribuiu, para a modernização e profissionalização do business no Brasil.
Naquela edição, que foi a da passagem, um editorial otimista que começava afirmando “Há boas razões para otimismo em 2020, e elas se encaixam basicamente em dois campos. No primeiro, as condições gerais da economia brasileira. Embora e sempre sujeita a um contingente de incertezas, as perspectivas são boas: juros baixos, inflação sob controle, expectativa de prosseguimento das imprescindíveis reformas…”, e por aí seguia o editorial… E encerrado o editorial, e no rodapé, a nota que completava o título do editorial Motivos para Otimismo: “Também para Exame o ano de 2020 apresenta perspectivas alvissareiras. Após 52 anos de existência como uma marca da Editora Abril, Exame foi recentemente adquirida pelo grupo BTG Pactual. A mudança de controle deverá implicar novos investimentos e um consistente impulso para manter a mesma missão de sempre: jornalismo independente e de qualidade…”.
Tudo começou no mês de julho de 1967, a então Editora Abril decide agregar as suas chamadas revistas técnicas Transporte Moderno, Máquinas e Metais, e Químicas e Derivados, um suplemento sobre administração e negócios. Segundo o diretor responsável pelas “técnicas” naquele momento, Renato Rovegno… Uma tentativa de ampliar o horizonte dessas publicações. Só que, o suplemento pela sua relevância, deixou de ser, muito rapidamente o coadjuvante e complementar e foi gradativamente tomando conta de todo o palco. Os leitores cobravam mais informações e páginas do suplemento, e as empresas preferiam ver seus anúncios em suas páginas. Em anos o suplemento engoliu as técnicas e tudo virou Exame. O filho ficou tão grande e poderoso que não se conformava mais em ser “sufocado” por três mães. Ganhou independência, periodicidade mensal. Exame, A Revista.
No início, o editorial da revista padecia dos excessivos cuidados das empresas. Muitas, e através de seus diretores e profissionais, acreditavam que conceder entrevistas e aparecer em suas páginas significaria entregar o “ouro” informações aos “bandidos” concorrentes. E os comandos de Exame foram se sucedendo. Mino Carta, 1972; de 1973 a 1976, Paulo Henrique Amorim e Exame tornando-se quinzenal a partir de abril de 1976. De 1976 a 1987 Guilherme Veloso e Rui Falcão. A partir de 1988, José Roberto Guzzo, Antonio Machado de Barros… E as edições vão se multiplicando assim com dezenas de outras iniciativas da revista que pautava os grandes temas do ambiente de negócios em nosso país…
No ano de 2018, a Editora Abril mergulha em crise final e irreversível, e no mês de dezembro de 2018 e nas principais plataformas de comunicação do País a notícia: Grupo Abril, dono da Veja e da Exame, foi vendido por R$ 100 mil… Ao empresário Flavio Carvalho, especialista em aquisição de empresas quebradas e reestruturação… Fim do grupo fundado por Victor Civita em 1950. Um ano depois, dezembro de 2019, vem a informação. Nesta quinta-feira, 05 de dezembro, a revista Exame do Grupo Abril, por R$ 72.374 milhões, foi comprada pelo banco BTG Pactual, através de leilão… Encapando o exemplar recebido pelos assinantes da edição 1201 de 22 de janeiro de 2020, a seguinte carta assinada por Carlos Fernando Nogueira, Diretor de Assinaturas do Grupo Abril…
“O Grupo Abril vem, por este comunicado, confirmar a venda da revista Exame para o Grupo BTG Pactual. Esta venda foi realizada por meio de leilão judicial, na data de 05 de dezembro de 2019, como parte do processo de recuperação judicial da companhia. O Grupo Abril agradece imensamente a oportunidade de ter tido você como leitor fiel a este título. Ao longo destes 52 anos de história, o Grupo Abril foi responsável por cobrir a transformação da agenda de negócios do Brasil. Sua missão sempre foi levar a seu público leitor informações e análises aprofundadas sobre temas e setores diversos, de maneira íntegra e independente. Não há dúvidas de que os novos responsáveis pela marca Exame continuarão se pautando pelos mesmos valores. Suportaremos o novo responsável neste período de transição, apoiando também você, leitor, nesta mudança. Vale destacar que não é necessário tomar qualquer ação com relação à sua assinatura atual. As condições de entrega de conteúdo, sejam elas através das revistas impressas ou dos canais digitais, permanecerão as mesmas. O Grupo Abril se coloca à inteira disposição para o esclarecimento de dúvidas, através de seu SAC. Cordialmente, Carlos Fernando Nogueira, Diretor de Assinaturas do Grupo Abril…”.
O que viria daí para frente? A pergunta que todos fizeram naquele momento. Chegava ao fim o primeiro grande e glorioso ciclo, de contribuições inestimáveis, e no correr de 52 anos. Agora caminhamos, mais alguns meses, em verdade quase dois anos, de uma Nova Exame. Nova, sim, porque transformou-se em uma revista bem diferente da original. Nem melhor, nem pior mesmo porque a comparação é impossível. Diferente. Menos matérias curtas, mais e poucas matérias longas e completas, quase ensaios sobre determinados setores de atividade e assuntos.
De qualquer maneira, a velha Exame, no seu velho e tradicional formato, continua fazendo imensa falta.