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Negócio

A volta das marmitas

Quando o Madia chegou à cidade de São Paulo, sozinho, com 13 anos de idade, em fevereiro de 1956, vindo de Bauru, pela Companhia Paulista de Estradas de Ferro, e desembarcando na Estação da Luz, foi morar durante meses, e enquanto aguardava pela chegada do restante da família, na pensão da tia Maria. Mais que querida tia, guerreira de muitos filhos e afazeres, que o acolheu na chegada a cidade. A pensão da tia Maria era na Avenida Angélica, onde dormia-se ao som dos bondes 14, 35 e 36; e três meses depois, Madia foi morar com o pais e irmãos, na rua São Vicente de Paula. Mesmo assim, e durante meses, e enquanto dona Julieta, mãe dele, ia se organizando, a família comia de marmita. Marmita que a adorada tia Maria preparava todos os dias, e ele ia buscar no almoço e no jantar. Agora, mais de 60 anos depois, as marmitas estão de volta. Com novas denominações claro, mas como produto compulsório que se impôs e valorizou, em decorrência da pandemia. Hoje, e também, e mais conhecidas como quentinhas. E os grandes restaurantes, sem outra alternativa, aderiram às quentinhas, e permaneciam no aguardo dos pedidos. Usando seus motoboys próprios, ou os serviços dos aplicativos. Agora, alguns restaurantes decidiram dar um passo adiante, e oferecer seus best-sellers não mais “quentinhos”, e sim, “congeladinhos”. E como via de regra têm em seu comando pessoas de extremo bom gosto, e conscientes do quanto custou construírem suas marcas, esmeram-se nos caprichos. O exemplo, o de Carla Pernambuco, jornalista que virou Chef consagrada, e que agora passa a oferecer a sua grande clientela, os principais pratos de seu consagrado cardápio devidamente congelados para serem estocados e servidos de acordo com a conveniência de seus clientes. Mais que óbvio, tudo no maior capricho. Embalagens encomendadas a designer que tem consciência e maturidade das diferentes missões das embalagens, claro, além de terem de encantar num primeiro bater de olhos. E como é de sua personalidade, característica e competência, Carla criou toda uma narrativa. Tipo, conforme declarou à coluna Direto da Fonte do Estadão, “Entregamos minhas receitas congeladas até o Polo Norte”, ou, “Agora também estou no negócio de comfort foods”. As velhas e queridas quentinhas ou marmitas agora na versão ou releitura comfort foods… E o positioning statement da Carla comfort foods, é, “Quebre o gelo, alimente seu urso interior…”. A pandemia, mais cedo ou mais tarde passa, algumas de suas decorrências, institucionalizam-se. Fornecer marmita, a partir de agora, também faz parte das competências de muitos dos consagrados restaurantes. Quem diria. Mas jamais, nem o mais fantástico dos restaurantes, chegará aos pés da marmita da pensão da mais que saudosa e querida tia do Madia, a tia Maria.