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Cenas da pandemia, ou, brigando por migalhas

Na falta de passageiros, com aviões parados, e considerando que carga não usa máscara e nem precisa de distanciamento e álcool em gel, as empresas aéreas brasileiras tentaram ganhar algum tempo, enquanto não conseguiam vislumbrar nenhuma outra alternativa. E partiram para a dolorosa decisão de converter aviões magnificamente preparados para o transporte de passageiros, em… Cargueiros. Isso mesmo, aviões de carga! As três – Latam, Gol, Azul – recorreram a esse expediente não como única e derradeira alternativa para melhorar os ganhos, mas e apenas para… Tentar atenuar os prejuízos. A Latam encostou alguns de seus Airbus A321 com capacidade para 220 passageiros, e apenas duas toneladas de carga, e colocou para descansar, e, simultaneamente, reabilitou Boeings 767 com capacidade para até 238 passageiros, mais 20 toneladas de mercadoria. E ainda, transformou um avião maior, um Boeing 777 com capacidade para 379 passageiros, retirando todas as poltronas… Convertendo uma espécie de “joia”, exagerando, claro, numa carroça, ou, “galinheiro”. O mesmo procedimento adotou a Azul. De seus 40 A320, que utilizava para o transporte de passageiros, 12 viraram cargueiros… E a Gol, sem muita margem de manobra pela proibição de retomar os voos como os 737 MAX, procurou oferecer serviços complementares no transporte de animais, e na guarda de mercadorias. Mais ou menos assim. Ou, nem no mais terrível dos pesadelos poderiam imaginar que passariam por essa dor, por esse constrangimento. Sentaram-se numa mesa, choraram todas as lágrimas possíveis, e no momento seguinte entregaram além dos anéis, os dedos das mãos, os dos pés, um dos braços, uma orelha, e a ponta do nariz. Na tentativa lancinante de manterem o negócio vivo. Sem nenhuma perspectiva de verdade, de alguma recuperação consistente, pelos próximos três anos. Em tempos de pandemia, nem mesmo se sorri. Chora-se e lamenta-se. Com maior ou menor intensidade. Nunca, como hoje, expressões desgastadas e típicas de momentos de gravíssimas crises e desespero, tomam conta de toda a cena e são repetidas à exaustão como hoje… Expressões, como: “Derrota é uma bebida amarga apenas para os que se conformam em tomá-la”; Ou, “Mais vale acender uma vela do que amaldiçoar a escuridão”; Ou, “A coragem e a fé removem montanhas”; Ou, “Coragem é enfrentar, e não permanecer parado fingindo resistência quando o que se tem, mesmo, é medo”; Ou, “Prefiro fabricar e vender lenços a permanecer parado chorando”; Ou, ainda, “Deus ajuda quem cedo madruga”; Ou, “É no momento mais escuro da noite que o sol prepara-se para nascer…”. Cada um dos players das diferentes cadeias de valor e especializações escolheu a sua preferida. Era, ou foi tudo o que tínhamos para os primeiros meses de pandemia. O caos era de tal ordem que ninguém sabia exatamente por onde começar. Muitos acreditaram ter aberto a porta de saída, mas… Estavam mesmo mergulhando mais fundo ainda.
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O pior momento da pandemia para as aéreas…

Enquanto em nosso país e na terra, todo um esforço era realizado no sentido de amenizar a dimensão da tragédia decorrente da coronavírus com desempregados, desalentados, e desesperançados, com meses de ajuda de R$ 600 e uma eventual réplica com um novo auxílio mensal, e que talvez se institucionalize no formato de renda social, lá em cima, nos céus do mundo, a ajuda necessária situava-se na faixa de muito a bilhões de dólares… Todos os dias! Na primeira fotografia tirada 90 dias depois do início da pandemia, esse era o tamanho do rombo diário nas contas das aéreas de todo o mundo, conforme relatório divulgado no início do mês julho/2020 pela Iata – Associação Internacional de Empresas Aéreas. Uma previsão inicial de um prejuízo naquele momento, somando todas as empresas da ordem de duas ou três centenas de bilhões de dólares. Das 20 maiores empresas aéreas do mundo, 17 já receberam ajuda financeira substancial dos governos de seus países. E na medida em que praticamente pararam, sem a ajuda do governo, todas, sem exceção, e até o final deste ano, seguem correndo o risco de quebrar espetacular e irreversivelmente… Mas, como integram a política de segurança dos países, na medida em que transportam pessoas e cargas, objetivamente não podem quebrar, sob pena de cortar meio essencial de conexão de cada país e suas economias, com os demais países e mundo. Naquela fotografia dos primeiros 90 dias, meses de abril a junho, a situação das 10 principais empresas aéreas do mundo era a seguinte, e por ordem de tamanho da frota de aeronaves: 1 – American Airlines – 105 mil funcionários, 942 aeronaves, 80% a menos de receitas. 2 – Delta Air Lines – 90 mil funcionários, 898 aeronaves, 90% a menos de receitas. 3 – United Airlines – 90 mil funcionários, 777 aeronaves, 92% a menos de receitas. 4 – Lufthansa – 140 mil funcionários, 763 aeronaves, 95% a menos de receitas. 5 – Southwest – 60 mil funcionários, 747 aeronaves, 70% a menos de receitas. 6 – Iag Group – British, Iberia, Vueling e Aer Lingus – 66 mil funcionários, 598 aeronaves, 85% a menos de receitas. 7 – Air France – KLM Group – 86 mil funcionários, 554 aeronaves, 82% a menos de receitas. 8 – Ryanair – 19 mil funcionários, 451 aeronaves, 99% a menos de receitas. 9 – Aeroflot Group – 24 mil funcionários, 359 aeronaves, 95% a menos de receitas. 10 – Emirates Group – 106 mil funcionários, 270 aeronaves, 82% a menos de receitas. Era essa a dimensão do desafio em todo o mundo. E no Brasil, a situação não era diferente. Com os maiores de 50/60 anos lembram-se, o cemitério das empresas aéreas em nosso país, e onde descansam em paz, dezenas de companhias de sucesso, como Varig, Vasp, Cruzeiro, Real, Panair, Transbrasil, meses atrás recebeu uma nova empresa. A Avianca Brasil. Na terça-feira, 14 de julho de 2020, a Justiça de São Paulo decretou a falência da empresa. No mês de dezembro de 2018, com dívidas da ordem de R$ 2,7 bilhões, a empresa ingressou com pedido de recuperação judicial no Rio de Janeiro. Meses depois teve seu certificado de transporte aéreo suspenso pela Anac por não comprovar as condições mínimas para continuar voando. Dos 55 aviões que um dia chegou a ter, em seus últimos meses de operação trabalhava com apenas cinco. Em sua melhor fase chegou a ter 5,3 mil funcionários, ser a quarta maior empresa aérea do País, com uma participação de mercado de 13,4%. Assim, e uma vez mais, e mesmo sabendo-se que nada é para sempre, o índice de mortalidade na aviação comercial continua sendo um dos maiores dentre todos os setores de atividades. E mesmo assim, por razões que a própria razão desconhece, muitos empreendedores continuam alimentando o sonho de um dia serem donos de uma empresa aérea. Neste exato momento, e em decorrência da pandemia, não existe, dentre milhares, uma única empresa aérea com qualquer outro resultado que não sejam prejuízos descomunais e diários. Todas. Mas, e mesmo assim, o sonho de voar e ter uma empresa aérea continua presente… E como dizia, Fernando Pessoa: “Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar nossa alma. O sonho é o que temos de realmente nosso, de impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso…”. Conclusão, sempre continuarão existindo sonhadores que acreditarão na quase impossibilidade absoluta que é manter em pé uma empresa aérea, com todos os seus aviões decorando os céus do mundo e transportando milhões de pessoas – nós – e nossos sonhos de voar… Segue a vida. O embarque será feito pelo portão… As três principais aéreas do Brasil perderam muito dinheiro depois de 1 ano de pandemia. Gol e Azul R$ 10 bilhões, cada, e a Latam encontra-se em recuperação judicial nos Estados Unidos.
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Diário de um Consultor de Empresas – 01, 02 e 03/05/2021

Francisco Madia comenta sobre RELAÇÕES TENSAS…As relações entre clientes das empresas aéreas, nós, mais conhecidos como passageiros, com essas empresas, são sempre impregnadas de total e absoluta tensão. O medo sempre está presente…
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Diário de um Consultor de Empresas – 11/02/2021

Francisco Madia comenta sobre O QUE NÃO MATA, ALEIJA. Essa expressão popular, grosseira, tosca, vulgar, infelizmente traduz uma parcela substancial da realidade que começamos a viver agora, quando nos aproximamos de um ano do COVID 19. Milhares de empresas e negócios chegaram ao fim. Literalmente, morreram. E muitos outros milhares de negócios perderam um pedaço, uma parte considerável, em muitas situações quase tudo, e terão que se reinventar. Ou, melhor, renascer.