Um novo Guilherme Benchimol
Do início para este final de década, Guilherme Benchimol, XP, não se reinventou, e, aparentemente, por seu comportamento, também não amadureceu.
Evoluiu na medida em que seus planos deram certo, e agora passou a ter um discurso consistente com a posição e seguranças alcançadas.
Durante anos ficou urrando aos quatro cantos que os bancos enganavam seus clientes, e recomendando que todos nós “desbancarizássemos”.
Mais adiante, ele, Guilherme, e seu XP, contrariando e negando o que recomendou aos outros durante anos, ele e seu XP… Bancarizaram! De forma ostensiva e escandalosa, aceitando o dinheiro do Itaú. Façam o que falo, não façam o que faço…
Ou, e quase que a dizer, “esqueçam o que disse e recomendei!”.
Meses atrás o Itaú distanciou-se mais da XP, depois de vender uma pequena parcela de sua participação. Mas, e no meio do caminho, e compatível com suas conquistas, Guilherme Benchimol foi atenuando seu discurso, agregando graus de elegância e empatia, sem jamais perder de vista suas convicções.
No início da década falava como guerrilheiro, agora fala como vencedor. E seu novo discurso, assim, fica mais palatável e merecedor de muitas, novas e poderosas adesões.
Hoje Guilherme diz, “Não tenho nenhuma preocupação com a saída do Itaú. Minha preocupação única é com a XP. Fazer com que o negócio fique melhor, funcionários se sintam realizados, e clientes satisfeitos − nossos acionistas são consequência disso”.
E é isso mesmo. Acionista de verdade é aquele que acredita que seus dividendos serão cada vez melhores e mais generosos, na medida em que o negócio vá bem, que os funcionários estejam engajados e comprometidos, e, por decorrência, clientes felizes e recompensados pela escolha.
Quando isso acontece a empresa vai bem e os dividendos crescem. Mas, disse também, e continua apontando o dedo: “O Brasil ainda tem tarifas abusivas para clientes que investem da forma tradicional. É fácil falar que você é focado no cliente, mas quem é focado no cliente, de verdade, não explora o cliente cobrando taxas exorbitantes.”
Sobre o futuro da XP – “Dá para fazer uma transformação muito maior nos próximos anos − e é isso que continuaremos buscando. Temos mais cientistas de dados do que banqueiros…”.
Perguntado se a movimentação do Itaú surpreendeu, Guilherme Benchimol respondeu: “A única coisa que me surpreende é quando a empresa não vai bem. Qualquer outra coisa que não diga respeito a empresa não me surpreende. Não é o rabo que abana o cachorro. Não é um acionista entrar e sair que faz a empresa ficar melhor ou pior. O que me preocupa é se nossos números estão crescendo, as receitas evoluindo, e os clientes satisfeitos…”.
Ele, Guilherme Benchimol, o novo banqueiro brasileiro, revelando maturidade, sem jamais perder ambição, energia e vitalidade.
Aproximando-se do que um dia disse Che Guevara, claro em outra situação e realidade. “Hay que endurecer, pero sin perder la ternura jamais”.
Assim, Benchimol segue batendo forte e pesado, mas, e agora, com uma dose de ternura e maturidade. Sem exagero, claro.
O sucesso melhora as pessoas? Talvez, alguns, excepcionalmente…