Angu de caroço, ou, dupla transição
A expressão angu de caroço tem dois entendimentos. O primeiro original, e que era um pedaço de carne que no tempo da escravidão costumava-se esconder para consumo posterior, ou reservar-se para uma pessoa querida e ausente. Daí decorreu um segundo sentido que, e como era difícil de se encontrar, acabou virando sinônimo de desafio, dificuldade, e até mesmo rolo e confusão.
Hoje a indústria automobilística mundial vive um duplo angu de caroço. Horizontal e vertical. No vertical, a troca quase que compulsória mediante a quase totalidade de manifestação das pessoas contra os combustíveis poluentes, e em defesa do carro elétrico. Neste momento, todas as montadoras, em todo o mundo, cuidam da migração para a chamada energia limpa.
E no Horizontal, a migração de uma sociedade de propriedades, para uma sociedade de usos, chegando o CAAS – o “carro” as a service. Quase ninguém mais comprando, fazendo assinatura e pagando por um dia, uma semana, um mês, um ano. E nesse angu de caroço as montadoras se reposicionam.
A primeira consequência dessas duas mudanças radicais é um repensar e o realocar de suas fábricas pelo mundo. E com isso, e nos últimos dois anos, quase 10 fábricas ou fecharam ou mudaram-se do Brasil.
Especificamente no caso da montadora que praticamente iniciou a chamada indústria automobilística em nosso país, a Volkswagen, encontramos ótimas referências das decisões que decorrem, obrigatoriamente, desse duplo angu de caroço.
Falando ao Estadão, e ao jornalista Eduardo Laguna, Pablo Di Si, que comanda a Volks na América Latina, explicou como a empresa vai processando essas duas mudanças:
“Nos próximos dois anos o Brasil vai passar por muitas mudanças de legislação, envolvendo uma série de normas prevendo mais segurança e menos emissões. Assim, alguns modelos que hoje existem deixarão de ser fabricados e no máximo em dois anos teremos uma nova safra de produtos da Volks. Muitos investimentos em desenvolvimento e muito pouco em instalações uma vez que possuímos quatro fábricas em ótimas condições…”.
Carros Elétricos – “Nos próximos cinco anos teremos seis novos veículos, entre carros elétricos, e carros híbridos. Mais adiante, teremos a eletrificação por completo. Em quanto tempo isso vai acontecer quem determinará é a mudança de comportamento dos consumidores. Já em todo o mundo teremos mais de 140 veículos entre híbridos e elétricos.
É isso, amigos. Todas as montadoras correndo para desatar esses dois nós, ou duplo angu de caroço horizontal e vertical.
Da velha, boa e poluidora gasolina para os elétricos. Da compra e propriedade para a posse e uso mediante assinatura. Duas crises específicas do setor, além claro, da maior de todas, a estrutural, da migração do velho para um novo mundo, e que afeta todos os negócios e todas as empresas de todos os portes e setores de atividade…