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Desertificação irreversível?

Irreversível, não, mas, todas as edificações corporativas, em maiores ou menores proporções, carecem de urgente revocação. Dia após dia cresce o número de metros quadrados liberados por abandono nas grandes cidades do país, especialmente, na cidade de São Paulo. Em alguns quarteirões de determinados bairros a vacância alcança números superiores a 50%. Na cidade de São Paulo, e exemplo referencial, Vila Olímpia e a Região da Berrini em processo de desertificação radical. Essa região, em verdade, já padecia de um vício de origem, ou decorrente das circunstâncias. Regiões e bairros de edificação quase que exclusivamente corporativas. Regiões que amedrontavam as pessoas a partir do cair da tarde. Ou seja, já tinham componentes e características muito específicas que limitavam de forma extrema o aproveitamento dos espaços locados por mais que 10, 12 horas por dia. E com a pandemia, e gradativamente, o esvaziamento foi se confirmando. Em passado recente caminhar pelas ruas dessa região era de grande dificuldade. Obrigando, muitas vezes, as pessoas recorrerem à faixa de asfalto próxima. Hoje, um tédio. Tranquilo a qualquer hora do dia com raríssimas exceções. A partir dessas características, e gradativamente, Vila Olímpia vem definhando. Em dezembro de 2019 existia um imóvel disponível para cada nove ocupados. Em 2020 saltou para 2,5 desocupados a cada 10, e fechou 2022 na faixa de três para cada 10. Especificamente na região da Berrini um dos melhores termômetros são os estacionamentos. Dos R$25 por dia das melhores épocas os preços foram despencando mês após mês para R$24, R$23, R$20, R$15, R$10, R$8, e mesmo assim permanecem vazios a maior parte do tempo. Neste momento, um número significativo de prédios das duas regiões realiza projetos para converterem esses edifícios corporativos para uso misto – residencial também. Ou seja, o que todos já sabiam, com exceção da maioria dos proprietários que se recusavam a acreditar nessa nova realidade, aconteceu, E agora, aqueles proprietários que foram intransigentes na renegociação de contratos, falam sozinhos. E tremem no final de cada mês por terem que arcar com condomínio e IPTU. Receita zero e, despesa mensal garantida e crescente. Finalmente, e duas semanas atrás, o Shopping Vila Olímpia reconheceu sua completa e total inviabilidade, jogou a toalha, e pretende se revocacionar… Difícil!
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A debandada dos imóveis comerciais

Faltava um pretexto. Ou, se preferirem, uma razão definitiva. E assim, o que estava previsto para acontecer mais adiante foi antecipado pela pandemia. Muitas funções nas empresas sempre foram realizadas a distância. Há mais de 50, 60, 80 anos… Utilizando-se os Correios, telefone, telex, e tudo o mais. Eram os milhares de vendedores que passavam dias, semanas, meses e anos viajando por todos os cantos deste país continental que é o Brasil. E a cada nova cidade mandavam os pedidos por cartas, telex, e tudo mais. De 2000 para cá passaram a mandar pelo digital, recorrendo à internet, tablets, celulares, smartphones. Mais adiante, as empresas de telemarketing, que empregam centenas de milhares de brasileiros, decidiram-se mudar das mesmas localidades das empresas para as quais prestavam serviços, para outros locais e cidades com farta mão de obra, de infraestrutura adequada de comunicação, e onde o vale refeição fosse menor. E assim, as empresas de telemarketing foram deixando os grandes centros. E nesse ritmo, e gradativamente, outras funções passíveis de serem realizadas a distância seguiram o mesmo caminho, mas, em ritmo lento e moderado. A pandemia acelerou tudo. E, assim, todas as funções que podem ser realizadas a distância, porque são mecânicas e operacionais sem maiores preocupações de estratégia, planejamento, reflexões, onde a presença física não é essencial, não voltarão para as matrizes e filiais das empresas. Permanecerão a distância. Com pessoas trabalhando para sempre em home office, e para tanto terão que ser treinadas, capacitadas e aparelhadas. Conclusão, o esvaziamento dos edifícios corporativos que só aconteceria pra valer na década de 2030 foi antecipado em 10 anos, e revela-se robusto e poderoso agora, em poucos meses, e no final ou controle da pandemia com a vacinação. Drucker, décadas atrás dizia de sua estupefação diante de empresas obrigarem seus funcionários de 80, 90 e 100 quilos passarem de duas a quatro horas de todos os dias empoleirados nos transportes coletivos, quando tudo o que as empresas precisavam eram de seus cérebros que pesam menos que 3 quilos. A Covid-19 determinou, agora, essa mudança definitiva. Conclusão, o esvaziamento dos edifícios corporativos nos grandes centros do Brasil é exponencial e muito maior do que admitem os proprietários de imóveis. Os proprietários mais sensíveis se deram conta do tsunami que vem pela frente e rapidamente antecipando-se, propõem reduções de até 50% nos aluguéis para preservar as empresas locatárias, e não terem que assumir o IPTU e o condomínio. Mas muitos ainda não se deram conta, e, muito rapidamente, verão suas propriedades vazias. Talvez, para sempre. Alguns dados que mais que documentam essa nova realidade. Entre os meses de abril e setembro do ano passado, apenas na cidade de São Paulo, foram desocupados e devolvidos 122 mil metros quadrados dos chamados edifícios classe A. Desse total, 73% ocupavam áreas com menos de mil metros quadrados. Na média, os aluguéis despencaram mais de 30%, e ainda continuam em queda devendo encontrar uma situação de nova realidade com uma queda final entre 50% e 60%. Grandes empresas começaram 2021 anunciando devolução da maior parte dos espaços que ocupavam. Dentre essas, e no Rio, a Vale. Dos 15 andares que ocupava na Torre Oscar Niemeyer, no Botafogo, devolvendo 11, numa primeira redução. Em São Paulo, mais da metade de todas as grandes empresas estão devolvendo, entre 30% a 70% dos espaços que ocupavam no início deste ano. Em janeiro de 2022 teremos enormes dificuldades em nos lembrar como era o mercado de imóveis corporativos 24 meses antes, janeiro de 2020, vésperas da coronacrise… É isso, amigos. Conviveremos nova década com milhares de metros quadrados e edifícios corporativos tentando revocacionarem-se em busca de novas utilizações. Dentre outras, e como já comentei com vocês, convertendo-se em hortas urbanas. Já que a pecuária urbana demora um pouco mais.
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