O dia em que o mágico asfixiou a pomba e matou o coelho…
Nos últimos dois anos, o mágico e sua mulher iam todos os dias para o aeroporto de Roraima para saber se havia lugares vazios nos voos. Se tivesse, lá iam os refugiados venezuelanos para o sul do país, recomeçarem suas vidas. Fez um acordo com as empresas aéreas que cediam os lugares vagos para essa nobre missão.
Carlos Wizard Martins, Grupo Sforza, dono de uma fortuna de mais de R$ 2 bilhões: Grupo Sforza, leia-se, KFC, Pizza Hut, Taco Bell, Aloha, Rainha, Topper, Ronaldo, Orion, Logbras, Hickies, Number One, Wise Up, Neymar Sports, Mundo Verde, dentre outras.
Dedicou os dois últimos anos de sua vida em mais uma obra social, dentre tantas que ele e sua família já protagonizaram. Toda essa história está sintetizada no livro de sua autoria lançado no início de 2020, “Meu Maior Empreendimento”. Mas, caiu em tentação…
“Esse período em Roraima foi um grande exercício de humildade. No mundo corporativo, quando fazia viagens internacionais para a China ou Dubai, por exemplo, chegava ao aeroporto e já havia pessoas da companhia aérea me esperando. Assim que me reconheciam me levavam para frente da fila, carregavam minha bagagem, me levavam para a sala vip. Com os refugiados era o contrário. Eu ficava no final da fila esperando todo mundo embarcar, aguardava encerrar a lista de espera e, então, mendigava um lugar vago… Todos os dias eu ia para o aeroporto com os venezuelanos. Se houvesse lugares vagos eles embarcavam. Caso contrário, tentávamos no dia seguinte…”. Carlos entrevistado por Rodrigo Caetano, Revista Exame.
“No que essa experiência de Roraima muda seus negócios?” Responde o mágico, “Um dos diferenciais de nosso grupo empresarial é um encontro toda a segunda-feira, às 8hs. No auditório cantamos o Hino Nacional, o hino da empresa, felicitamos os aniversariantes, as grávidas, as novas mães e encerramos com um café da manhã. Ninguém se atrasa… Tenho uma formação religiosa, sou membro da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Essa base me ajuda no mundo corporativo… A fé é uma forma de tratar bem o semelhante…”.
Carlos Wizard Martins, um benchmark da melhor qualidade sobre como empresários e profissionais sempre deveriam comportar-se… Mas, caiu em tentação… Recebeu um convite e, sem refletir, disse sim… Aceitou ocupar uma vaga no Ministério da Saúde a convite do Messias e do ministro Pazuello, com elevadas chances de, em poucas semanas, ser o novo ministro e ocupar o lugar do interino Pazuello.
Na empolgação, e acostumado sempre a dar declarações sobre seus negócios onde é o todo poderoso e domina todas as mágicas, Wizard, fez a perigosa mágica de falar pelos cotovelos. Querendo agradar o Messias, declarou ao O Globo: “tem muita gente morrendo por outras causas e os gestores públicos puramente por interesse de ter um orçamento maior nos seus municípios, nos seus estados, colocam todos os mortos como covid…”.
A casa caiu… Em 48 horas o mágico desculpou-se, diante da indignação de políticos, e da pressão de seus sócios em seus negócios, e declarou: “Hoje, 7 de junho, deixo de atuar como Conselheiro do Ministério da Saúde. Além disso, também fui convidado para assumir a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos da pasta. Agradeço ao Ministro Eduardo Pazuello pela confiança, porém decidi não aceitar para continuar me dedicando de forma solidária e independente aos trabalhos sociais que iniciei em 2018, em Roraima…”
Depois de uma história de vida espetacular, de narrativa única, de grandes e muitas realizações, e sucessos, sempre, e, no mínimo, Wizard escorregou na vaidade e na crença que dominava todos os truques… Não dominava. Ninguém domina.
A maiori, ad minus – “Quem pode mais pode menos.” Pode ser que isso funcione na Justiça. Na vida, a realidade é outra e completamente diferente. Se faltava um truque dar errado na vida de um mágico que jamais asfixiou pomba ou matou coelhos, finalmente chegou o dia.
Que todos tenham aprendido a lição. Empresários, façam seus truques apenas nos territórios que dominem, e onde revelem total e comprovada competência. Como disse Dorothy, no final de O Mágico de Oz, “Não há lugar como nossa casa!”.