Síntese das sínteses
Em todos os últimos anos muito se tem discutido sobre a possibilidade do excesso de tecnologia estar fazendo mal para as pessoas. Tornado todos mais acomodados, e, de quebra, alterando a maneira como raciocinamos.
Por esse pensamento, todas as inovações dos últimos séculos e milênios, precisariam ser reconsideradas porque determinaram mudanças profundas no comportamento dos seres humanos.
Em decorrência das inovações, no correr os séculos, passamos a produzir dezenas de vezes mais, e, na outra ponta, comer sentados em cadeiras e em volta de uma mesa, com pratos de louça, faca e garfo, mais guardanapos. Caso contrário, continuaríamos nos alimentando com as mãos…
Porém, as fantásticas facas, que nos possibilitaram um salto civilizatório monumental, nas mãos de desequilibrados provocam as maiores barbaridades. É exatamente isso que testemunhamos acontecer com a tecnologia e seu uso.
Daniel Schacter, psicólogo americano e professor da Universidade de Harvard, autor do clássico The Seven Sins Of Memory: How The Mind Forgets And Remembers, do ano de 2001, relançado agora em versão atualizada e mais completa, em entrevista à Giovanna Wolf do Estadão, explica,
“A tecnologia pode ser útil para nossa memória, como as agendas digitais que nos notificam sobre compromissos… o perigo reside na desinformação que povoa a internet que, e sem que as pessoas se deem conta, vai se incorporando às suas memórias…”. Ainda em sua entrevista Schacter falou sobre uma espécie de Síndrome do Fotógrafo.
E que é mais ou menos a seguinte, a pessoa que numa viagem de família cuida dos registros fotográficos, não guarda nem uma melhor recordação, e nem uma maior lembrança da foto que tirou. Pela simples razão que sua atenção se concentra na luminosidade, no foco, no ângulo, de todas as fotos que tira no correr da viagem. E ainda Schacter reflete sobre uma espécie de Síndrome de GPS.
Com o GPS tudo ficou mais fácil, e raramente erramos a direção. Em compensação, nos tornamos dependentes, e se no passado guardávamos e sabíamos os caminhos, hoje se precisarmos refazê-los sem GPS será praticamente impossível.
De verdade, Schacter apenas nos recorda do sentido da evolução.
Diante de uma alternativa melhor em todos os sentidos, teríamos imensa dificuldade em retroceder, em recorrer a uma solução antiga, substituída magnificamente por uma solução melhor.